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A Música Pop

A música popular alemã é um mosaico de estilos e manifestações, com referências nacionais e internacionais. Neste artigo você conhecerá as principais correntes históricas e tendências contemporâneas.

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Foto: Peter Boettcher/Kunstsammlung NRW

Embora a música clássica seja a vitrine musical da Alemanha, é a música popular que predomina em termos quantitativos. Até 2001, a Alemanha era o terceiro maior mercado musical do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão.

Foram vendidos naquele ano 245 milhões de CDs, cassetes e discos, os quais representam um faturamento de 2,4 bilhões de euros. Em 2002, seguindo a tendência mundial, o mercado fonográfico alemão retraiu-se (223,7 milhões de unidades vendidas) e caiu para o quarto lugar em termos de vendas mundiais, atrás do Reino Unido.

Estilos e preferências

Através das estatísticas de 2002 referentes à indústria fonográfica, pode-se ter uma visão geral dos estilos da música popular na Alemanha e das preferências em termos de público:

  • A música pop ocupa de longe o primeiro lugar, com 43,6% do mercado.
  • O rock, enquanto estilo próprio, vem em segundo lugar (15,9%).
  • A canção popular (em alemão Schlager), gênero musical que se diferencia do pop pelo seu estilo melodioso, está empatada com a música erudita (ambas 7,2%).
  • Os produtos para o público infantil e a música para dançar ocupam fatias semelhantes do mercado (6,3% e 6,2% respectivamente).
  • O jazz e a música de inspiração folclórica (em alemão Volksmusik) têm pequena participação (1,8% cada).
  • O restante do mercado fonográfico (10%) é ocupado por outros estilos musicais e produtos (DJs, tecno, música eletrônica, literatura oral, etc.).

Algumas tendências recentes emergem à tona, comparando-se os dados de 2002 com os da década de 1990.

  • A participação da música pop manteve-se estável (41% em 1992), a do rock (20,7%) e da música clássica (9,5%) diminuiu.
  • O mercado da música de inspiração folclórica (3,5%)decaiu, a música de dança (4,3%) e os produtos para crianças (1,3%) cresceram.
  • Houve um aumento relativo das produções alemãs (de 29,2% em 1990 para 42,7% em 2002) e uma diminuição das produções internacionais (de 70,8% em 1990 para 57,3% em 2002).
  • Em termos gerais o mercado musical se diversificou com a introdução de novos suportes audiovisuais (DVDs).

"E-Musik" e "U-Musik"

O folclore e a música popular sempre foram apreciados nos países da língua alemã. Os compositores clássicos e românticos – como Mozart, Beethoven, Schubert e outros – utilizaram constantemente temas e canções populares como base em suas composições. Foi no fim do século 19, com a implantação de um mercado musical, que se cristalizou uma diferença significativa entre o "clássico" e o "popular".

Este processo se acelerou com as técnicas de reprodução musical – o gramofone e posteriormente o disco – que, no transcorrer do século 20, transformaram a música em produto de massa. Na Alemanha estabeleceu-se uma diferença significativa entre a "E-Musik" (Ernste Musik = música séria) e a "U-Musik" (Unterhaltungsmusik = música de entretenimento).

A E-Musik corresponde ao que no Brasil se chama "música erudita" e a U-Musik define a "música popular". Entretanto, é importante entender que a "música popular brasileira" (MPB) tem conotações distintas da U-Musik. A MPB define uma certa postura estética, ao passo que o termo U-Musik se aplica de forma indistinta a praticamente tudo quanto é música que não se encaixe na tradição da música erudita européia.

As décadas do cabaré

Após a Primeira Guerra Mundial, a Europa e a Alemanha em particular descobriram uma certa liberdade que estava associada aos valores da cultura e ao estilo de vida dos Estados Unidos. Nas grandes cidades alemãs, especialmente Berlim e Munique, proliferaram instituições como clubes, bares, cabarés, salões de bailes e teatros de revista nas quais se cultivavam gêneros tipicamente americanos como jazz, swing, big band, music hall, etc.

A invenção do cinema falado criou um novo mercado musical, a partir das década de 20 e 30, impulsionando novos estilos musicais e o aparecimento das primeiras grandes estrelas. Por exemplo, o sexteto Comedian Harmonists, pioneiro da tradição alemã de música popular a cappela, os cantores das operetas de Kurt Weill (1900–1950) e Bertolt Brecht, e a própria Marlene Dietrich com seu sucesso Ich bin von Kopf bis Fuss auf Liebe eingestellt (do filme O Anjo Azul, de 1930).

A "música degenerada"

Com a ascensão de Adolf Hitler e a implantação do Terceiro Reich, em 1933, a música popular alemã, assim como a cultura popular de uma forma geral, viveu um período de trevas. O jazz e toda a música de influência americana foram considerados "música degenerada" (em alemão entartete Musik), ao lado da música composta ou interpretada por judeus.

Plakat Entartete Musik Eine Abrechnung von Staatsrat Dr. H.S. Ziegler Deutsches Historisches Museum
Cartaz nazista sobre 'música degenerada'Foto: DHM

O cartaz da ópera-jazz Johnny spielt auf (1927), do compositor austríaco Ernst Krenek (1900–1991), mostrando um negro de cartola tocando saxofone, foi deturpado pela máquina de propaganda nazista, tornando-se o símbolo da "música degenerada".

Durante o nazismo, os alemães foram bombardeados com canções folclóricas (Volkslieder), canções patrióticas (Heimatlieder), baladas de "caráter alemão", marchas militares, canções do front e tudo o que estimulasse a ideologia nazista. A música-símbolo desta era o Horst-Wessel-Lied (1938), uma marcha da SS que se tornou uma espécie de hino nazista.

O rádio tornou-se um poderoso instrumento de propaganda, mas contribuiu também para difundir o lirismo de algumas canções alemãs que resistiram à ânsia de exclusão nazista: por exemplo Lili Marleen (1939), na voz da Lale Anderson, e Ich weiss, es wird einmal ein Wunder geschehen (1942), interpretada por Zarah Leander.

As décadas de 50, 60 e 70

Depois da Segunda Guerra Mundial, a música popular alemã retomou do zero. A década de 50 foi marcada pela influência da música americana, inglesa e algumas vezes francesa. O fenômeno mundial do rock entusiasmou também a juventude alemã, que assimilou rapidamente os hits americanos, geralmente em versões cover cantadas em alemão.

Na década de 60, com a invasão das bandas pop americanas e sobretudo inglesas, como os Beatles e os Rolling Stones, as bandas alemãs desapareceram praticamente das paradas de sucesso. Surgiu então um novo estilo de canção popular alemã – o Schlager – que marcou a música popular até o fim da década de 70. Todos os hits alemães dessa época não são canções de rock, e sim Schlager.

A década de 70 assistiu entretanto ao aparecimento de uma nova tendência: a música popular de vanguarda, inspirada na música eletrônica erudita, campo em que a Alemanha teve um papel pioneiro. A banda Kraftwerk estourou em 1975 com o álbum Autobahn e tornou-se uma referência internacional, até hoje.

A "Nova Onda Alemã"

Cantar em alemão era praticamente tabu na Alemanha até o início da década de 80. A juventude só aceitava música pop e rock cantada em inglês. Como opção só existiam os Schlager e a Volksmusik. Foi quando surgiu, de repente, o movimento chamado Neue Deutsche Welle (Nova Onda Alemã). As bandas de rock com letras em alemão proliferaram por toda a parte e fizeram muito sucesso, inclusive nos Estados Unidos.

Os textos da Nova Onda Alemã eram em sua maioria engraçados, ingênuos e ironizavam os Schlager. Muitas bandas adotaram os teclados e assumiram a influência da música eletrônica. O fenômeno da Nova Onda Alemã foi curto (terminou em 1986), mas gerou muitos sucessos. Para citar apenas dois: Da Da Da (1982), da banda Trio, e 99 Luftballons (1983), da cantora Nena.

DJs, hip-hop, tecno

Desde o final da década de 80, a música popular alemã tem acompanhado o vertiginoso desenvolvimento da música eletrônica e das novas formas de produção musical. As casas noturnas, aqui chamadas de "discotecas", tornaram-se centros de difusão de uma nova cultura musical que está associada, por um lado, à musica de dança e, por outro, à expressão de novas identidades culturais.

Godfather des Techno
DJ Sven VaethFoto: AP

A música de DJs desenvolveu-se na Alemanha vinculada ao culto de personalidades e identidades capazes de mobilizar as massas. Alguns deles já estão ativos desde a década de 80, como Sven Väth e Westbam. Este último é o primeiro DJ que exprime a tendência de uma subcultura ligada a um contexto político de esquerda.

A música dos DJs reflete também diferenças regionais: Tanith em Berlim, expressão de uma cidade marcada pela queda do Muro; Hooligan da região da Ruhr, centro industrial; Hell de Munique, cidade da moda; e a turma de Frankfurt – Väth, Marc Spoon, Dag – caracterizada por um certo misticismo.

Inicialmente, o hiphop alemão inspirou-se na música dos guetos dos negros americanos para expressar os problemas das camadas sociais desfavorecidas. Mas em 1991 as portas da indústria cultural se abriram. O grupo Fantastische Vier conquistou as paradas de sucesso com o hit Die da e inseriu o hiphop na normalidade. Mais recentemente, surgiram artistas mulatos e negros, como Afrob, Samz Deluxe, DJ Desue e o cantor de blues Xavier Naidoo, que questionam em sua música a violência, o racismo e o nazismo.

A música da banda cult alemã Kraftwerk é uma referência do movimento tecno, que se desenvolveu nos Estados Unidos, sobretudo em Detroit. Na Alemanha, um importante impulso foi dado em 1989 com a Love Parade, o desfile anual que chegou a atrair mais de uma milhão de pessoas em seus anos áureos, em meados da década de 90.

O tecno alemão apóia-se em referências da música eletrônica "séria", como por exemplo o compositor Karlheinz Stockhausen, guru da vanguarda do tecno minimalista de Colônia. No tecno reflete-se também a diversidade de expressões regionais que, de uma forma geral, constituem o grande trunfo da música popular alemã.