"A mãe de todos os dérbis"
4 de dezembro de 2018Em nenhuma parte da Alemanha há tantos clubes de futebol como na Renânia do Norte-Vestfália e, mais especificamente, na região do Ruhr. Muitos afirmam que é nesta região do oeste do país que o coração do futebol alemão bate com mais força.
Pela proximidade das diversas cidades que compõem a região, de intensa densidade demográfica, há muitos jogos que são considerados dérbis (em alemão são chamados de "Revierderby") tanto nas divisões profissionais como nas amadoras.
Apesar desta sobrecarga de rivalidades locais, há um confronto que nas últimas décadas tem merecido um destaque todo especial e acabou sendo batizado com o pomposo nome de "mãe de todos os dérbis".
Trata-se do encontro entre os dois clubes mais bem-sucedidos da região: Borussia Dortmund e Schalke 04. Ambos tiveram uma origem comum, que foi e continua sendo em boa parte até hoje a classe operária. Os "azuis reais" do Schalke 04 da cidade de Gelsenkirchen nasceram dos sindicatos dos mineradores de carvão, enquanto os "aurinegros” do Borussia Dortmund se originaram dos trabalhadores da indústria do aço.
Desde a sua fundação, os dois clubes de futebol tiveram uma forte função social de integração dos milhares de imigrantes que vieram da Europa oriental para trabalhar nas grandes indústrias que no começo do século passado se estabeleceram na região.
As duas cidades ficam a apenas 30 quilômetros uma da outra e é fácil imaginar o clima frenético entre as torcidas na semana que antecede este superdérbi. É exatamente o que está acontecendo nesta primeira semana de dezembro às vésperas do já icônico confronto entre Schalke 04 e Borussia Dortmund na Veltins Arena, em Gelsenkirchen.
Temporada após temporada e independentemente da situação em que o time se encontre, os dois clubes conseguem vender antecipadamente entre 40 a 50 mil carnês com direito a assistir a todos os 17 jogos do campeonato na sua própria arena. Pequeno detalhe: no preço do carnê já está incluído o ticket do transporte público.
Um detalhe revelador da simbiose entre torcida e clube é o fato que Schalke e Dortmund disponibilizam para o seu "torcedor raiz" as maiores arquibancadas, denominadas "gerais” da Alemanha, onde a torcida fica de pé antes, durante e depois do jogo.
No caso "aurinegro” tem a tribuna sul, mundialmente conhecida como "Muralha Amarela" com capacidade para 28.337 espectadores, ou seja 35% do espaço total do Signal Iduna Park (81.365).
Na Veltins Arena dos "azuis reais", com capacidade para 62.271 espectadores, a curva norte pode receber até 16.309 torcedores, que, a exemplo dos seus rivais em Dortmund, também festejam o seu time ficando em pé o tempo todo durante o jogo.
Pelo visto, os dois clubes levam a sério as tradições do torcedor raiz. Uma das tradições deste tipo de torcedor reza que é mais importante derrotar o arquirrival do que levantar a Salva de Prata, símbolo da conquista do título de campeão alemão. Fui testemunha disso quando, em fevereiro de 2011, tive o privilégio de comentar numa cabine do Signal Iduna Park este portentoso clássico.
Não bastasse a rivalidade histórica entre os dois grandes do Vale do Ruhr, tem ainda os números que refletem com precisão o atual equilíbrio entre os dois times, mesmo que na tabela estejam em situação diametralmente oposta como acontece à esta altura do campeonato.
Em 55 anos de Bundesliga, Schalke 04 e Borussia Dortmund se enfrentaram em 92 oportunidades. Foram 32 vitórias auri-negras, 31 triunfos azuis-reais e 29 empates. Este equilíbrio estatístico aparece também em períodos recentes.
Nas últimas cinco temporadas foi assim: três vitórias do Dortmund, duas do Schalke e cinco empates.
E por falar em empate, o mais espetacular foi o da temporada passada, há pouco mais de um ano. Primeiro tempo avassalador dos aurinegros: 4 a 0. Segundo tempo irresistível dos azuis-reais: 4 a 4. O gol de empate foi marcado pelo brasileiro Naldo aos quatro minutos dos acréscimos!
Schalke 04 x Borussia Dortmund. A mãe de todos os dérbis. Fortes emoções à vista no próximo sábado.
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
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