Meio Ambiente
A Jordânia é um dos países mais carentes em água em todo o planeta – lá cada habitante só dispõe de 180 metros cúbicos de água ao ano. Devido a esta escassez do chamado "ouro azul", os poucos reservatórios de água do país são explorados tão intensamente que ameaçam o fornecimento a longo prazo – tanto para fins domésticos, quanto para a indústria e a agricultura.
Ambientalistas e profissionais de auxílio ao desenvolvimento alertam que, se o modelo e a dimensão do consumo de água não forem drasticamente alterados, as consequências serão devastadoras para a população e para o meio ambiente.
Uma lenda seca
Em alguns lugares, como ao longo do próprio Jordão, os impactos da escassez de água são nítidos. O lendário rio é, segundo a tradição cristã, o local onde Jesus foi batizado. E, há incontáveis gerações, o Jordão consta como a principal fonte de água do país. Na década de 1930, antes que o ecossistema sofresse intervenção humana, o rio chegava a ter até 65 metros de largura em alguns lugares.
Atualmente, em alguns pontos, resta apenas um filete lamacento de água, critica a organização não governamental Amigos da Terra (FoEME).
O rio foi reduzido a "um mero riacho, seco devido ao uso excessivo da sua água e devastado pela poluição". A ONG aponta ainda que o alto grau de salinidade da água fez com que animais como a lontra e árvores típicas região, como o álamo, desaparecessem por completo. A biodiversidade foi reduzida à metade.
Má utilização na área rural
Os profissionais de auxílio ao desenvolvimento que trabalham no Oriente Médio também estão cientes do problema de água do país, assim como as péssimas condições em que o rio Jordão se encontra, e procuram ajudar. Um deles é Rudolf Rogg, diretor regional do Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social (DED) no território palestino e na Jordânia.
De acordo com Rogg, o fornecimento doméstico de água é frágil, prejudicado principalmente pela intensa irrigação feita na área rural. E, apesar dos agricultores utilizarem boa parte das reservas disponíveis para regar suas plantações, o seu trabalho resulta em uma porcentagem insignificante no desempenho econômico nacional. Esse aspecto é criticado também por Munqeth Mehyar, diretor jordaniano do FoEME. "Quanto menos agricultura, melhor", afirma ele e alegra-se com o apoio que a sua organização recebe dos alemães.
O DED colabora com o Ministério da Agricultura e Água do país, a fim de desenvolver conceitos agronômicos que economizem água. No Vale do Jordão, por exemplo, bananas são cultivadas em grande escala, o que requer quantidades enormes de água – até em excesso, recrimina Rogg.
"Por isso, é preciso que se diga adeus às plantações de banana, assim como à irrigação nas áreas elevadas do país, e que se retome a economia de pastoreio", justifica. Já começaram reuniões para instruir os agricultores sobre uma forma de mantê-los no nicho rural e, ao mesmo tempo, economizar o precioso "ouro azul".
Redução das emissões de CO2
Também a distribuição da água no país causa um grande problema. Para solucionar isso, o DED trabalha em parceria com a Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) e uma fabricante alemã de bombas d'água para aprimorar o sistema de canalização e bombeamento da Jordânia.
A água proveniente do Vale do Jordão, situado abaixo do nível do mar, precisa vencer um declive de mais de mil metros para ser transportada até a metrópole Amã.
O processo requer um alto gasto de energia e a maior parte das bombas utilizadas já está ultrapassada. Isso faz com que o sistema de distribuição de água se torne não só o maior consumidor energético do país, como também um terrível emissor carbônico, uma vez que a energia demandada provém principalmente dos combustíveis fósseis. Bombas de água eficientes e uma canalização estável trariam, portanto, uma vantagem dupla: resgatariam o Jordão e também o clima.
Autor: Martin Schrader (mdm)
Revisão: Roselaine Wandscheer