Carlos Eduardo
1 de abril de 2010Carlos Eduardo Marques nasceu em 18 de julho de 1987 em Ajuricaba, no Rio Grande do Sul. Revelação da equipe do Grêmio, que foi vice-campeã da Copa Libertadores da América em 2007, o meia Carlos Eduardo foi contratado pelo Hoffenheim em agosto do mesmo ano. Ele custou cerca de 8 milhões de euros, a mais cara contratação da história da Segunda Divisão alemã.
O craque vivenciou a ascensão do Hoffenheim, mantido pelo fundador da empresa de software SAP, que em apenas dois anos subiu da liga regional à Primeira Divisão da Bundesliga, em 2008. Carlos Eduardo, cujo contrato vai até 30 de junho de 2013, marcou 13 gols em suas 52 partidas pela Primeira Divisão do Campeonato Alemão. Pela seleção brasileira, disputou três partidas sob o comando de Dunga.
Em entrevista à Deutsche Welle, ele fala sobre suas expectativas e seus desafios na Alemanha.
Deutsche Welle: Por ter vindo do interior gaúcho, com uma rápida passagem por Porto Alegre, foi mais fácil sua adaptação ao ambiente europeu?
Carlos Eduardo: Lá no sul é um pouco frio também. E para mim o futebol gaúcho é um pouco mais duro que o paulista e o carioca, e isso me ajudou bastante. Tive uma escola muito boa, que foi o Grêmio. Uma escola excelente, formadora de grandes jogadores, como Ronaldinho, Lucas, Anderson. O Grêmio foi uma história muito bonita, consegui vencer lá e o clube me deu a experiência para vir para cá poder mostrar meu futebol naturalmente.
A adaptação à Alemanha foi difícil?
A língua foi muito difícil. Ainda estou aprendendo alemão. Vou completar três anos aqui, não falo muito ainda, mas entendo bastante. Consigo me virar. Também o frio é um problema. Quanto à comida, me adaptei, pois não tenho problemas com temperos, porque o tempero aqui é muito forte.
Você mora sozinho?
No momento moro com um amigo meu. Minha mãe, que fica aqui três a quatro meses, e tem também minha empregada do Brasil, que cozinha e fica direto aqui comigo. O que foi muito importante para mim.
O fato de morar numa cidade pequena ajudou no processo de adaptação?
Moro em Östringen [local de 12.500 habitantes, entre Heidelberg e Karlsruhe, no sudoeste da Alemanha]. Fica a fünf.. [ele derrapa para o alemão, mas logo se corrige] a 15 quilômetros do centro de treinamentos do clube. É uma cidade pequena. Eu também vim de uma pequena cidade do Sul, que é Ajuricaba, com 10 mil habitantes. Para mim não foi tanta diferença. É um lugar tranquilo, e eu gosto de lugares tranquilos.
Como foi sua adaptação em termos de amizades?
Para nós, no Brasil, é mais fácil. A gente faz amizade muito rapidamente. Mas aqui as pessoas são mais fechadas, cada um na sua. Senti um pouco isso, as pessoas são muito mais frias. No Brasil a gente sai, e depois de um encontro já faz amizade. As pessoas são mais calorosas. Claro que senti um pouco, mas agora me adaptei, às vezes já converso com as pessoas em alemão.
Você tem contato com outros brasileiros na Alemanha?
Com alemães não tenho muito contato. Mas com brasileiros, por telefone, como com Josué, que foi para a seleção comigo, com Grafite, com Lúcio, Zé Roberto, Rafinha.
O jogador brasileiro ainda tem uma técnica superior ao europeu?
Com certeza, o brasileiro tem a ginga de que todo mundo fala. No Brasil, de dez moleques, oito só querem jogar futebol. Às vezes nem estudam direito, só querem futebol. Claro que a Europa evoluiu muito. O futebol da Alemanha nos últimos anos não era bem visto no Brasil porque as pessoas achavam que era um futebol muito de força, não tinha técnica, se corria muito. Mas agora, vivendo aqui, jogando aqui, vejo que está evoluindo a cada ano, com jogadores de alta qualidade técnica.
Quem você admira mais no Hoffenheim?
Tenho uma amizade muito boa com o Luis Gustavo, admiro ele por tudo o que passou. Ele veio emprestado para cá e conseguiu vencer. Ele é meu ídolo.
Qual seu ídolo no futebol mundial?
Sempre considerei muito o Ronaldinho Gaúcho. No momento, ele não está muito bem, mas ficou na história pelo que ele fez no passado. O que ele fez com a bola, as pessoas não vão conseguir fazer igual.
Você acha que ele deve ser chamado para a Copa?
Acho que será difícil, porque o grupo está quase fechado e o Dunga, como é um cara sério, mantém sempre o grupo. Acho que o Ronaldinho não vai.
Como você vê suas chances?
Fui muito bem nos três jogos que fiz para a seleção. As pessoas me elogiaram, o professor Jorginho, auxiliar do Dunga, me deu os parabéns, me elogiou muito, entrei com personalidade. Acho que tenho de continuar trabalhando aqui, conseguir vitórias com o Hoffenheim, que não vive um bom momento. E se eu estiver bem e o Hoffenheim estiver bem, as chances são grandes.
Como é sua relação com o técnico Ralf Rangnick, do Hoffenheim? Na rodada anterior você foi substituído e saiu insatisfeito do campo.
Ele me tirou e eu saí um pouco chateado, mas foi uma coisa normal. Não tenho nada contra ele. Gosto muito dele, como ele gosta de mim. Às vezes as pessoas falam um monte, transformam coisas pequenas em coisas grandes, que não existem. Minha amizade com seu Ralf continua a mesma desde que cheguei aqui, admiro muito ele.
Você acha que está sendo aproveitado todo o seu potencial no Hoffenheim? Tem a impressão de que poderia ser mais bem aproveitado em outro lugar? Continua com toda a empolgação de quando chegou?
No começo tive várias propostas de times grandes, como o Porto e o Benfica, equipes que jogam na Liga dos Campeões, campeonato da Uefa. Mas tomei a decisão com 19 anos, visando o meu futuro. Falei que viria para o Hoffenheim porque era uma equipe com um projeto muito bom.
Muitos me criticaram, principalmente no Sul, porque era um clube desconhecido. Mesmo minha família ficou um pouco assustada. Mas foi uma ótima decisão para a minha vida. Fiz jogos muito bons aqui. Nas últimas partidas não estou muito bem, mas tenho capacidade de melhorar.
Há um boato de que o Hoffenheim pode negociar você com o Real Madri. O que há por trás disso?
São só comentários. Minha cabeça está no Hoffenheim. Estou com 22 anos, claro que tenho objetivos na vida. É meta de todo jogador vestir a camisa de um grande clube da Europa, como Real Madri, Inter e Milan, são grandes clubes daqui. Mas meu pensamento está aqui, meu trabalho é aqui. Se eu continuar trabalhando sério, com certeza os grandes vão vir.
Você tem acompanhado o futebol de Neymar, do Santos?
Oh, claro! Ele é um jogador muito, muito bom. Ele está vivendo um bom momento. Creio que ele é o melhor jogador no Brasil. E isso com apenas 18 anos. Ele é um jogador excelente, muito habilidoso, muito técnico, muito rápido. Acredito que no meio do ano ele receberá boas propostas de grandes clubes da Europa. Seu futuro com certeza é muito promissor.
Como você vê o retorno ao futebol brasileiro de grandes jogadores como Adriano e Robinho, que renunciaram à Europa para voltar a jogar no Brasil? Você acha que o mercado brasileiro está atraindo e segurando melhor os jogadores?
O Brasil está evoluindo muito em termos financeiros. Grandes empresários e empresas estão investindo muito nos clubes. Há torcedores fanáticos que têm muito dinheiro e que investem muito nas equipes de que gostam, como, por exemplo, no Grêmio.
Com certeza vai ficar mais difícil trazer jogadores para a Europa. Também tem os jogadores que retornam ao Brasil porque é muito difícil jogar na Europa. A gente passa por muitas dificuldades. Mas, como sempre digo, se queremos almejar algo na vida temos que passar por dificuldades, as coisas não vêm de mão beijada.
Como você vê o domínio brasileiro na Copa Libertadores?
Há equipes muito boas, São Paulo, Inter, Flamengo, Cruzeiro, Corinthians, com Ronaldo e Roberto Carlos, acredito que são hoje os melhores clubes do Brasil. Por isso acho que o título da Libertadores vai ficar com um clube do Brasil.
Qual é sua mensagem para os brasileiros?
Sinto saudade, principalmente daquela torcida maravilhosa do Grêmio, porque para mim foi uma história muito linda. Saí de casa com 13 anos e fiquei lá até os 19-20 anos. Foi uma formação excelente.
Você acha que Ronaldinho retorna ao Grêmio algum dia?
Olha, ele saiu muito criticado, mas um jogador como Ronaldinho é bem-vindo em qualquer clube, e se ele retornasse para o Grêmio a torcida iria amá-lo.
Entrevista: Roselaine Wandscheer
Revisão: Augusto Valente