1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

A distante reaproximação entre Otan e Moscou

20 de abril de 2016

Diplomatas da Aliança Atlântica e da Rússia reúnem-se pela primeira vez desde a anexação da Crimeia, num aceno ao diálogo em meio à maior crise desde a Guerra Fria. Ao fim, nenhum sinal de que diferenças ficarão de lado.

https://p.dw.com/p/1IZ9a
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg
Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan: "Profundas diferenças"Foto: picture-alliance/dpa/J. Warnand

Embaixadores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da Rússia se reuniram nesta quarta-feira (20/04) em Bruxelas. O encontro foi simbólico por voltar a colocar os dois lados à mesa de negociações após dois anos, mas não serviu mais do que para evidenciar as diferenças entre ambos.

O chamado Conselho Otan-Rússia foi criado em 2002, como fórum para consultações entre dois antigos inimigos. O mecanismo, porém, foi deixado de lado em junho de 2014, quando os russos anexaram a Crimeia, precipitando Moscou e Ocidente no período de maior tensão desde a queda da Cortina de Ferro.

Ao fim do diálogo em Bruxelas, que se estendeu por 90 minutos além do planejado, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, evitou eufemismos diplomáticos e deixou claro que, embora "franca e séria", a conversa não trouxe qualquer progresso.

"A Otan e a Rússia têm profundas diferenças", disse Stoltenberg. "E o encontro de hoje não mudou isso."

A reunião ocorre no momento em que a Otan prepara seu maior acréscimo de contingente no Leste da Europa desde a Guerra Fria, com o objetivo de se contrapor ao que a Aliança – em especial os países bálticos e a Polônia – veem como uma Rússia mais agressiva.

Lituânia, Letônia e Estônia, que se uniram à Otan e à União Europeia em 2004, pediram aos aliados uma presença permanente de destacamentos de tropas em cada território, de pelo menos um batalhão por país – ou seja, entre 300 e 800 soldados.

NATO Standing Maritime Group in Bulgarien
Embarcações búlgaras e da Otan no Mar Negro: Aliança prepara seu maior acréscimo de contingente no Leste da EuropaFoto: picture-alliance/NurPhoto/Impact Press Group/P. Petrov

Falta de confiança mútua

A expansão da Otan é vista pela Rússia como uma afronta, como afirmou Dmitry Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin, antes do encontro desta quarta-feira. Ele culpou a Aliança Atlântica pelo que chamou de "falta de confiança mútua".

"Estamos vendo atos hostis por parte da Otan em nossas fronteiras, uma ameaça aos nossos interesses", afirmou Peskov. "As ações recentes mostram que a Aliança ainda está trabalhando de acordo com seu conceito original: coagir e confrontar a Rússia. Estamos contentes que haja novamente um diálogo, mas não será fácil."

Segundo o analista político Stephen Blank, do instituto americano Foreign Policy Council, o encontro desta quarta-feira, de fato, não deve ser entendido como gesto de aproximação, mas de "troca de opiniões".

Blank lembra o incidente da semana passada, quando dois aviões de guerra da Rússia sem armas à vista realizaram manobras de ataque simulado a um destroier de mísseis teleguiados dos Estados Unidos no Mar Báltico – uma das interações mais agressivas da história recente provenientes de Moscou com os americanos como alvo direto.

"Os russos querem exibir sua força e mostrar que podem dar demonstrações de poder, sem que tenham que pagar um preço por isso", afirma o especialista.

Em entrevista à DW, o chefe da Conferência de Segurança de Munique, Wolfgang Ischinger, compartilha opinião semelhante. Ele afirma que provocações como as ocorridas no Mar Báltico podem levar a "escaladas incalculáveis" na situação e destaca a importância da manutenção do canal de diálogo, ainda que sem avanços concretos em vista.

"A última coisa de que precisamos neste momento, o mais perigoso desde o fim da Guerra Fria, é uma troca barata de argumentos propagandísticos", afirma Ischinger. "Por isso, é importante que o Conselho Otan-Rússia seja retomado."

Rússia e Otan concordaram em manter as comunicações, embora sem expectativas de degelo nas relações. "É de interesse de ambas as partes manter abertos os canais de diálogo político. Mas isso não significa que voltaremos à situação de antes", frisou Stoltenberg.

RPR/dw/rtr/ap