Há semanas que a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo está caindo. E isso apesar de, na política interna, tudo parecer estar sob controle: a economia se mostra robusta, os investimentos estão chegando ao Brasil e prometem mais emprego, e o arquirrival Jair Bolsonaro está cada vez mais enrolado com a Justiça.
A desaprovação viria então da política externa de Lula, que, para muitos, produziu sobretudo manchetes negativas?
Depois de a política interna ter dominado os dois primeiros governos de Lula, se fortalece a impressão de que, no seu terceiro e provável último mandato, Lula quer brilhar no cenário internacional. Um assento permanente no Conselho de Segurança para o Brasil seria um belo prêmio, assim como um acordo climático alcançado sob a liderança do Brasil.
Ou melhor ainda: será que ele mira o Prêmio Nobel da Paz com sua iniciativa para a Ucrânia?
Seja como for, essa iniciativa fracassou tão logo Lula se colocou publicamente ao lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin. E a comparação entre a Faixa de Gaza e o Holocausto, que gerou uma crise diplomática com Israel, o desqualificou como moderador também nesse conflito.
Dias atrás ele foi visto com uma bandeira palestina num evento do Ministério da Cultura. Em vez de se empenhar pela resolução de conflitos como um estadista experiente, Lula parece estar buscando a aprovação dos jovens usuários do TikTok. Isso não vai levar a lugar algum.
Parece-me que Lula está mal aconselhado se for entrar numa onda anti-Israel. Isso não combina com o seu passado de amigo próximo de Israel. Além disso, basta olhar os comentários postados sob vídeos do conflito em Gaza nas redes sociais para se ter a impressão de que muitos usuários são da opinião de que o Hamas usa a própria população como escudo humano para prejudicar a imagem de Israel no mundo. Esses usuários enxergam mais longe do que Lula e seus assessores.
No Brasil, além disso, Israel usufrui de uma grande reputação entre católicos e sobretudo entre os evangélicos. Colocar-se claramente ao lado do Hamas – e, com isso, do Irã – deve custar muito apoio político interno a Lula e piorar a imagem dele com esses eleitores. Nesse ponto, ele provavelmente foi mal assessorado por Celso Amorim, o seu ministro oculto das Relações Exteriores com um viés tradicionalmente antiamericano e antiocidental.
Tapinha nas costas de ditadores no exterior
O mesmo vale para a escandalosa posição de Lula sobre a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela, que já expulsou um quarto da população do país. E que agora está quebrando as promessas de eleições livres, dadas ao Ocidente, e usando pretextos para excluir a líder oposicionista María Corina Machado das eleições.
Em vez de "ficar chorando", Machado deveria simplesmente indicar outro candidato para a eleição de 28 de julho, disse Lula. Afinal, ele mesmo, em 2018, indicou um candidato substituto – Fernando Haddad – quando foi impedido de concorrer.
Uma comparação ousada – muitos se lembram muito bem do drama de meses que o PT e Lula fizeram em torno da candidatura cancelada de Lula. E mais ainda do drama de anos em torno do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Há anos já que se ouve falar de "golpe" aqui no Brasil, enquanto Dilma e o PT dão tapinhas nas costas de ditadores em todo o mundo que pisoteiam a democracia em seus próprios países. Ou pior: que mandam matar seus críticos.
Sobre Maduro: à parte a comparação mais do que infeliz e o conselho inapropriado, Lula não pode esperar angariar muito apoio com seus amigáveis préstimos para a ditadura venezuelana. Ao contrário, eles reforçam a impressão de que Lula e o PT se sentem melhores na companhia de ditadores do que na de democratas do Ocidente.
Isso não cai nada bem com a maioria dos brasileiros que votou em Lula para não dar um novo mandato desastroso para Jair Messias Bolsonaro. Afinal, o que estava em jogo era salvar a democracia, lembram?
Diante de uma bússola geopolítica tão danificada, é necessário se perguntar por que afinal Lula quer colocar o Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Eu já sugeri isso aqui meses atrás, mas, diante da gravidade da situação, sugiro de novo: se Lula quer brilhar no cenário internacional e se candidatar para tarefas mais elevadas, deveria começar resolvendo os problemas urgentes que estão na sua própria vizinhança.
O Haiti, por exemplo, precisa urgentemente de uma mão firme para salvá-lo da ruína. O Brasil, que liderou uma missão da ONU no país caribenho, está numa posição predestinada para ajudar. Mas não se ouve palavra sobre isso.
Ou sobre como resolver o problema da migração: de Cuba à Nicarágua, passando pela Venezuela, centenas de milhares de pessoas estão fugindo da opressão política e da mais dura pobreza. Nesses lugares Lula é ouvido. Por que ele não se manifesta sobre isso em vez de se aferrar ao Oriente Médio e à Ucrânia?
--
Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.
O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.