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Cena musical vai além das batidas do techno

Tamsin Walker/ Marco Sanchez22 de maio de 2014

Capital alemã é conhecida como um dos centros mundiais de música eletrônica. Mas um grupo está voltando ao passado e mesclando velhos e novos ritmos para apresentar, de forma alternativa, um som diferente.

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Foto: Svea Pöstges

Uma noite normal de sexta-feira, um restaurante do descolado bairro de Kreuzberg. Entre pratos de sopas e copos de cerveja, um inesperado trio sobe ao palco e começa um interlúdio, quase como mágica, sem qualquer introdução.

A música parecia ter sido feita especialmente para aquele momento. O show durou cerca de 20 minutos. Eles agradeceram o público, venderam alguns CDs e se prepararam para partir. Berlim pode não ser tão cosmopolita quanto Londres, ou sofisticada quanto Paris, mas não perde seu posto entre as principais capitais culturais da Europa graças a sua capacidade de surpreender.

Um dos músicos que subiu ao palco naquela noite foi o contrabaixista Flo, também conhecido como Flocko Motion ou Captain Flo, dependendo da ocasião e da banda com que ele está tocando – ele tem muitas para escolher. Ele e outros cerca de 40 músicos são parte de um movimento que está usando história para criar história. Musicalmente falando.

Experimento e improvisação

The Syncopation Society é, como o nome sugere, um grupo de bandas que brincam com uma inesperada variedade rítmica. "A bateria começa, os violões colidem com o contrabaixo e com coros polifônicos em alta velocidade", explica um membro do Diving for Sunken Treasure, sobre os ritmos sincopados característicos.

"É como se o Django Reinhardt tocasse com o The Clash no bar do [Ennio] Morricone em algum lugar em um universo paralelo", explica o músico para os leigos. Quem escuta a música criada pelas diferentes bandas do grupo sabe que ele está certo.

Há 11 bandas na sociedade, que representam coletivamente rhythm and blues, o antigo jazz, o swing, klezma, balcã, jive, entre outros. Mas não há regras dentro dela, então seus membros transitam entre estilos, conforme o desejado.

Diving for sunken treasure (Band)
Diving for Sunken Treasure: "Como se o Django Reinhardt tocasse com o The Clash no bar do Morricone"Foto: Philipp von Ganski/Hendrik Schneller

"Algumas bandas existem apenas por um momento", diz Flo. "Elas são como efêmeras". E ele gosta que as coisas funcionem dessa maneira, não apenas porque isso dá espaço para um interminável processo criativo, mas nutre a espontaneidade. "Às vezes você quer só sair e tocar na rua", diz o músico.

Mas como membro regular de mais de uma banda – entre elas Skazka, Dizzy Birds e Susanna Berivan – nem sempre ele tem tempo de tocar nas calçadas. E a mesma regra vale para seus colegas músicos. Frequentemente, eles fazem dois shows por noite, passando o chapéu duplamente e mergulhando em dois diferentes mundos musicais.

Diversos gêneros

Para ver toda essa teoria em prática, nada como conferir de perto um show do Dizzy Birds em um pequeno café, também no bairro de Kreuzberg. E com sua incessante capacidade de surpreender, Berlim pode levar o espectador para um mundo repleto de Nova Orleans do passado.

Quem se aventurava a invadir a pista com movimentos de dança sabia exatamente o que estava fazendo. Todos os seus movimentos abraçavam as batidas sem amplificação, que tomavam conta da sala lotada. Eles teriam dançado a noite inteira se Flo e seus companheiros de banda continuassem tocando.

Skazka Orchester
A Skazka Orchester é uma mistura de folk russo, klezma, ska, balcã, ritmos latino-americanos e jazzFoto: Steinbart/Skazka

Mas às 22h, eles guardaram seus instrumentos, e cada um seguiu o seu caminho. Seguindo os passos de Flo, a noite ainda reservou espaço para o show da Skazka Orchesra, uma banda que diz "combinar folk russo, klezma, ska, balcã, ritmos latino-americanos e até jazz para criar uma sonoridade única". Entre os músicos no palco, estava o contrabaixista em sua segunda apresentação da noite.

Durante toda a noite, o público estava em êxtase. Eles podiam ou não saber os passos de dança, mas ninguém estava tímido na pista. Um sinal de que o objetivo declarado da sociedade – música "feita à mão, artística, divertida e dançante" – está sendo alcançado.

Berlim tem famosos e clássicos clubes de música eletrônica, como o Berghain e o Tressor. Tem também, no outro extremo, quatro casas de ópera. Mas no meio disso, há diversos palcos, bancos ou calçadas para uma grande variedade de novas e criativas bandas que querem redesenhar, à mão, o mapa musical da cidade.