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A bola é um mundo

mw12 de setembro de 2003

Programa cultural da Copa de 2006 convida a uma visita ao mundo do futebol. Dentro da bola do artista Heller, há história, multimídia e interatividade. E de sua arena serão transmitidas por rádio leituras e debates.

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O globo diante do Portão de BrandemburgoFoto: AP

Que nos perdoe o caro leitor se porventura desconfiar que houve troca na ordem dos fatores no título. Todos sabem que o mundo é uma bola. Mas o artista André Heller, contratado para o programa cultural da Copa do Mundo de 2006, parece que quis provar o inverso e instalou o mundo – ou falando artisticamente, fez uma instalação do mundo, ao menos o do futebol, dentro de uma bola.

Há exatos mil dias do apito inicial em Munique do próximo mundial de futebol, o planeta bola de seu criador austríaco foi inaugurado na noite desta sexta-feira em Berlim, bem diante do mais famoso cartão postal da capital alemã: o Portão de Brandemburgo. A 15 metros do chão, o globo de 60 toneladas apresenta-se de dia como uma enorme bola de futebol e à noite, iluminado por 20 mil lâmpadas LED, brilha como o planeta Terra.

A bola não ficará parada na capital alemã. Até a Copa do Mundo, ela irá rolar pelas 12 cidades anfitriãs a cada dois meses. A próxima parada será Frankfurt, em dezembro, quando a metrópole financeira será palco do sorteio dos grupos das eliminatórias para o mundial.

Por dentro da bola

Após pagar dois euros, subir a rampa e a escada rumo ao interior da bola assemelha-se em parte a entrar num estádio de futebol. A mais moderna tecnologia cria um clima de arrepiar. Ouve-se comemoração de gols ou vaias cheias de raivo. Lá dentro há uma exposição que mistura objetos reais e recursos multimídia.

Do acervo fazem parte a Copa Fifa – nome oficial do troféu máximo do futebol –, uma chuteira original usada por David Beckham no Real Madrid e as bolas usadas nas decisões do mundiais de 1954 na Suíça – o primeiro vencido pela Alemanha – e de 1974 em Munique, assim como a bola de farrapos, costurada logo após o fim da Segunda Guerra Mundial e que havia sido anexada ao dossiê da candidatura alemã à sede da próxima copa.

No próximo andar, muitos monitores e telas de projeção. Os visitantes podem escolher cenas grotescas de mundiais passados, como decisões polêmicas dos árbitros, fazer visitas virtuais pelos 12 estádios que hospedarão os jogos da Copa 2006, escutar os cantos e ver as coreografias de torcedores de diversas nações do planeta. Há ainda a possibilidade de se testar o conhecimento sobre os placares de partidas de torneios anteriores.

A caminhada encerra-se numa grande arena, na qual à noite serão promovidas leituras e discussões sobre futebol com artistas, escritores, atores e políticos, além de esportistas, entre outros. As conversas serão transmitidas ao vivo – ou em partes editadas – por emissoras de rádio. Para o criador Heller, será a hora do "teatro futebol". O prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, a presidente do Instituto Goethe, Jutta Limbach, e o redator-chefe do Tagesspiegel, Giovanni di Lorenzo, abrem a rodada na noite de domingo.

Cultura contra a imagem de mau humor

Governo e organizadores querem usar a Copa do Mundo como um grande cartão de visitas da Alemanha. André Heller afirma que sua concepção cultural pretende mostrar o anfitrião como um país aberto ao mundo, "contra o culto do mau humor". Para o ministro do Interior, Otto Schily, o programa cultural – financiado com 30 milhões de euros dos cofres públicos – oferece "uma chance gigantesca de apresentar a Alemanha por seu melhor lado".

Bom entendedor de futebol, o presidente do comitê organizador do mundial está mais satisfeito com o trabalho de Heller do que com o atual desempenho da Seleção Alemã. "Não combina com a qualidade artística que imaginamos para o programa cultural do mundial", sentenciou Franz Beckenbauer, na quinta-feira, ao apagar as velinhas de seu 58º aniversário.