A ameaça do surto de coronavírus à economia global
30 de janeiro de 2020O surto de coronavírus, que se espalha rapidamente pela China e já chega a outros países, tem abalado os mercados globais, enquanto investidores e governantes avaliam os riscos que a doença representa para a economia mundial.
Com o número de mortes chegando a 213 e mais casos sendo registrados a cada dia, as bolsas de valores dos maiores centros financeiros registram quedas consecutivas.
"Os mercados permanecerão altamente voláteis enquanto sentirem que têm apenas uma imagem incompleta do que está acontecendo e do que acontecerá a seguir", afirma Agathe Demarais, diretora de previsões globais da empresa Economist Intelligence Unit.
A China, que é o epicentro do surto, é a segunda maior economia do mundo e tem um papel fundamental nas cadeias de suprimentos globais. Por isso, qualquer coisa que mexe com o país asiático tem potencial para afetar a economia mundial.
"A China é muito importante na economia global. E quando a economia chinesa desacelera, sentimos isso", disse Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos.
Zhang Ming, economista da Academia Chinesa de Ciências Sociais, projetou que o surto pode reduzir o crescimento da China no primeiro trimestre em um ponto percentual, para 5% ou menos.
Grandes empresas se preparam para interrupções
Até agora, o surto causou interrupções somente limitadas na cadeia de suprimentos, já que muitos estabelecimentos já estavam fechados para o feriado do Ano Novo chinês. Mas há preocupações crescentes de que fábricas possam permanecer fechadas por mais tempo do que o habitual.
Também há temores sobre eventuais danos à produtividade, já que milhares de operários podem ter dificuldade para voltar ao trabalho na próxima semana, devido a restrições de viagens impostas pelo governo chinês.
O surto tem sido um dos principais pontos de discussão nas divulgações de resultados trimestrais das companhias nesta semana. Somente nos Estados Unidos, a palavra "vírus" ou "coronavírus" foi mencionada por 27 empresas diferentes, incluindo Apple, Starbucks e McDonald's, conforme uma análise da rede americana CNBC.
A Apple, que registrou ganhos recordes na terça-feira, forneceu recomendações mais amplas para o trimestre em andamento diante da incerteza em torno do impacto do vírus. Praticamente todos os iPhones, principal fonte de lucro da companhia, são fabricados na China.
A Tesla espera um atraso no aumento da produção em sua fábrica recém-inaugurada em Xangai. Já a fabricante alemã de autopeças Robert Bosch monitora a situação para avaliar se haverá atrasos no reinício da produção em suas duas instalações de Wuhan, que estão fechadas.
A Toyota do Japão também interrompeu a produção na China até 9 de fevereiro. McDonalds e Starbucks fecharam centenas de lojas no país. A varejista sueca de móveis Ikea disse que fechará todas as suas 30 lojas chinesas "até novo aviso", em resposta ao surto.
Várias companhias aéreas suspenderam voos para a China, incluindo Lufthansa, British Airways, Air Canada e American Airlines.
"Além do risco para a vida humana, é provável que atinja atividades de viagens e consumo. Em um cenário de infecção generalizada, isso pode enfraquecer materialmente o crescimento econômico e as posições fiscais dos governos na Ásia", afirmou a agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P).
Impacto maior que a Sars
Os analistas já estão comparando o surto atual com a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), também causada por um coronavírus e que matou cerca de 800 pessoas entre 2002 e 2003.
O custo global da Sars, que também começou na China e se espalhou para outros países, foi estimado em 33 bilhões de dólares, equivalente a 0,1% do PIB mundial em 2003.
Muitos dizem que o impacto do novo coronavírus no crescimento global pode ser maior, já que hoje a China representa uma parcela maior da economia mundial.
LL/ap/rtr/afp
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