Paixão fiel
28 de fevereiro de 2010Não foi apenas o público de Berlim Ocidental que caiu de amores pela pianista argentina em 1967, seu début na metrópole dividida. Também o jornal Berliner Zeitung aclamou a "beleza de rosto inteligente", com "juba à la Juliette Gréco", que no palco se revelava uma "tigresa das teclas".
E o papa da crítica musical alemã Joachim Kaiser atestou que, já na época, ela era tão boa "como apenas uma dúzia contada de pianistas, em todo o mundo". Entre os compositores, a jovem Martha Argerich manifestava uma preferência declarada: Frédéric Chopin.
Virtuose precoce
A carreira de Argerich, nascida em Buenos Aires em 1941, começou muito cedo: já aos oito anos de idade ela estreava em público. A partir de meados da década de 1950, a adolescente conquistou a Europa, arrebatando, um atrás do outro, os primeiros lugares dos concursos de piano de que participava.
Essa trajetória brilhante culminou em 1965 com o prêmio do Concurso Chopin, em Varsóvia. Imediatamente as companhias fonográficas iniciaram uma corrida pelo contrato de exclusividade com essa excepcional pianista de 24 anos. A disputa foi decidida a favor da alemã Deutsche Grammophon.
Contudo os registros históricos lançados por ocasião dos 200 anos do nascimento de Frédéric Chopin não provêm dos arquivos da gravadora, mas sim de duas emissoras de rádio e televisão: a WDR e, em especial, a antiga RIAS, de Berlim. É controvertido o dia exato em que o músico nasceu na localidade polonesa de Zelazowa Wola: se 22 de fevereiro, como consta de sua certidão, ou 1º de março de 1810, data que menciona em cartas à mãe.
Raridades
Desde o início de sua carreira, a pianista privilegiou o repertório romântico, no qual a obra de Frédéric Chopin ocupa posto central. Numa entrevista concedida em 1967, Argerich analisava: "Quando se toca Chopin, tudo é virtuosismo. Tudo, mesmo os menores prelúdios, são virtuosísticos. Mas não acho Chopin exibicionista: ele é antes sutil. Pianisticamente, tudo dele é muito mais difícil do que Liszt".
Até hoje, a musicista portenha interpreta as mazurcas, estudos, polonaises, sonatas e baladas do compositor-pianista romântico com paixão, dramaticidade e sensualidade inigualáveis, e este CD é um must, tanto para os aficionados por Chopin quanto para os fãs de Martha Argerich.
Entre interpretações cheias de força, tensão e sentimento, o álbum traz aquela que é possivelmente a primeira gravação com Argerich: sua versão da Balada nº1 em sol menor, opus 23 executada para a RIAS de Berlim em 1959, aos 17 anos de idade. Outra raridade é o registro ao vivo da Sonata nº 3, opus 58 de Chopin, assim como diversas mazurcas e noturnos gravados em março e dezembro de 1967.
Autor: Klaus Gehrke (av)
Revisão: Carlos Albuquerque