2 de maio de 1989: O rasgão na Cortina de Ferro
2 de maio de 2016"Não consigo nem acreditar que estou aqui. Fui seguindo a onda dos refugiados. Cem metros antes da fronteira, eles pararam e todo o mundo correu para a Áustria."
Palavras de cidadãos da antiga República Democrática Alemã (RDA) no verão europeu de 1989. Eles estavam em fuga: fuga do Stasi, o serviço de segurança do governo comunista, da repressão e da escassez.
Sessenta mil chegaram à Hungria – nenhum deles queria voltar. Todos tinham os olhos voltados para o pequeno rasgão na Cortina de Ferro, o resultado das reformas na Hungria. Uma esperança de integração na Europa.
Na primavera europeia de 1989, os políticos húngaros decidiram abrir a fronteira para o Ocidente. Dia a dia, 600 metros de arame farpado eram arrancados. A palavra de ordem era: "Desmontar e levar para casa". Em junho, até mesmo os ministros das Relações Exteriores dos dois países fronteiriços pegaram no alicate. O austríaco Alois Mock tomou a palavra: "Agradeço a meu colega húngaro por esse gesto simbólico. É o mais belo momento de minha carreira política e diplomática".
Fugir da frustração
Também os alemães orientais assistiram a essas imagens na televisão. A frustração no país era grande naqueles dias, a fraude nas recentes eleições fora mais do que óbvia. Muitos queriam simplesmente ir embora e viam agora chegar a sua chance.
Eles viajavam para a Hungria, encontravam guarida na embaixada da República Federal da Alemanha ou escapavam pela chamada "fronteira verde". Vários deles foram apanhados durante a fuga. Uma testemunha relata: "Dois soldados nos agarraram, e nós imploramos tanto. Eu ainda pensei: estávamos tão perto, por favor, nos deixem passar. Mas eles não deixaram".
No entanto, muitos conseguiram fugir para a Áustria. De lá, seguiam viagem para a Alemanha Ocidental. Em agosto, 15 mil pessoas se reuniram em Sopron, perto da fronteira austro-húngara, para um piquenique pan-europeu. Elas acabaram arrancando, com as próprias mãos, os últimos pedaços da Cortina de Ferro. Centenas de alemães-orientais conseguiram escapar naquela ocasião.
Obviamente, a fuga ainda era ilegal. Mas isso não impediu a Hungria de receber cada vez mais cidadãos da RDA, ansiosos por liberdade. O então ministro húngaro do Exterior, Gyala Horn, conversou com o então chanceler federal da RFA, Helmut Kohl, e partiu para deliberações em Berlim Oriental: "A situação tinha que ser resolvida. Os alemães orientais vinham em número cada vez maior e queriam ir para a Alemanha Ocidental. Não podíamos mandá-los de volta para um país em que eles não desejavam viver".
Ventos sopram de Moscou
A decisão de abrir a fronteira para os fugitivos amadurecia. De início, manteve-se sigilo. Autoridades da época garantem que nada teria sido possível sob o comando de Leonid Brejnev, que chefiou a União Soviética entre 1964 e 1982. As mudanças só começaram de fato a ocorrer quando Mikhail Gorbachev assumiu o cargo, em 1985.
Segundo Gorbachev, que foi o último chefe soviético, quem também participou decisivamente para o fim da Guerra Fria e para a posterior reunificação da Alemanha foi Eduard Shevardnadze. Ex-presidente da Geórgia, ele foi o último ministro do Exterior da URSS.
Finalmente, em 11 de setembro, a Hungria fez cair as barreiras para o Ocidente. As autoridades anunciaram: "Os cidadãos da RDA aqui presentes podem sair do país com os seus documentos". Essas palavras desencandearam uma explosão de júbilo. Numa sucessão de cenas tocantes, as pessoas atravessavam a fronteira, cantavam, gritavam de alegria.
O general Novacki se recorda: "Eu estava em minha varanda quando ouvi a notícia no rádio. Desde algum tempo já sabíamos o que aconteceria, mas então, que clamor, que explosão de fogos, vindos de onde se alojavam os refugiados alemães. Eu diria que esse foi um dos momentos mais belos da história."