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6 de março de 1992

Peter Philipp (gh)

No dia 6 de março de 1992, o mundo científico aguardava com expectativa os prejuízos causados por um vírus de computador, programado para entrar em ação no aniversário do pintor italiano. Mas a catástrofe não aconteceu.

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Alerta de vírus na telaFoto: APTN

O escultor, pintor, poeta e arquiteto italiano Michelangelo Buonarroti (1475–1564) nem podia imaginar que um dia viessem a existir computadores, muito menos que seu nome seria usado para batizar a primeira ameaça realmente séria ao mundo da informática: um vírus programado para se ativar no dia 6 de março – data de nascimento do artista – e que seria capaz de destruir todas as informações armazenadas no cérebro do computador.

O primeiro alerta sobre a existência do vírus Michelangelo foi dado em 1991 por um comerciante australiano. Depois de instalar um programa, ele viu uma série de sinais estranhos na tela de seu micro. Até hoje, não se sabe quem foi o inventor desse vírus.

Como outros de sua espécie, ele foi programado para prejudicar os usuários de PCs. Supõe-se que o Michelangelo tenha sido programado em Taiwan. Era um assim chamado "vírus de boot", que infecta o boot de um disquete ou disco rígido (HD). Quando o disco é utilizado, o vírus se duplica e atinge a memória do computador.

Prognósticos exagerados

Como se reconheceu esse perigo logo de início, o Michelangelo não causou grandes estragos em 1991, ano de sua descoberta. No ano seguinte, porém, provocou histeria. Em janeiro de 1992, um grande fabricante de computadores anunciou que havia despachado 500 PCs contaminados com o vírus.

Pouco depois, outra empresa admitia que, acidentalmente, havia distribuído 900 disquetes infectados. Era o início de uma campanha que ficaria na história dos vírus. A mídia divulgou que 5 milhões de computadores espalhados pelo mundo poderiam ser atingidos pelo Michelangelo.

Os departamentos de marketing das empresas de antivírus captavam a atenção da mídia e promoviam seus produtos, distribuindo gratuitamente softwares de detecção.

As notícias sobre o Michelangelo causavam pânico, mas raramente questionavam os números astronômicos, como a estimativa de que um de cada quatro PCs no mundo seria atacado pelo vírus. Estudos realizados na Europa concluíram que a "epidemia" se alastrava a partir do Sudeste Asiático.

Embora na época a informática fosse bem menos difundida que hoje, houve uma corrida atrás de programas antivírus. Somente a Universidade de Hamburgo recebeu, nos dias anteriores ao 6 de março de 1992, mais de 20 mil pedidos de ajuda para caçar o suposto "assassino" de PCs.

Quando chegou o dia crítico, os cálculos indicavam que cerca de 10 mil a 20 mil computadores e não 5 milhões haviam sido contaminados. Na Alemanha, ainda hoje se diz que, até aquele dia, entre 1.300 e 13 mil PCs haviam sido atingidos no país – o que ilustra bem a margem de especulação contida nas estatísticas. Para quem esperava um cenário de juízo final, o Michelangelo – por sorte – foi parecido com o bug do milênio: um fiasco mundial.

Invenção de especialistas

O Michelangelo não foi o vírus primogênito da era da informática, mas o primeiro a conquistar fama internacional. Desde sua descoberta, desenvolveu-se uma verdadeira indústria de combate às epidemias programadas. Suspeita-se que muitos vírus sejam concebidos por especialistas, que depois desenvolvem e vendem os antivírus adequados para combatê-los ou mantê-los sob controle.

Segundo Cristina Gennani, autora do Minidicionário de Informática (Editora Saraiva, 1999), até "a Microsoft percebeu que podia usar os vírus como proteção contra cópia pirata e, assim, o vírus adquiriu status e passou a significar emprego, ainda que essa verdade nunca fosse mencionada abertamente".

O Michelangelo, há muito tempo, sumiu do mapa. Ele se propagava, quase exclusivamente, pelos antigos disquetes de 5,5 polegadas, hoje fora de uso. Atualmente, existem vírus perigosíssimos, capazes de destruir arquivos, programas e até o sistema operacional.

O principal meio de difusão desses invasores é a internet e, especialmente, o correio eletrônico. Por outro lado, a própria internet oferece informações sobre as características peculiares de cada vírus e os antivírus adequados para combatê-los.