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HistóriaAlemanha

1992: Revista alemã "Quick" sai de circulação

Ewald Rose Publicado 27 de agosto de 2015Última atualização 27 de agosto de 2022

No dia 27 de agosto de 1992 foi publicada a última edição da "Quick". Fundada em 1948, a revista chegou, em seu auge, à tiragem de 1,7 milhão de exemplares. Ao ser extinta, as vendas estavam em 700 mil exemplares.

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Três capas da revista com as manchetes
Exemplares da revista, inclusive a edição especial de janeiro de 1996 (à dir.)Foto: imago/teutopress

"A Quick não é uma revista política. A Stern, sim, é política, publica denúncias e aproveita-se principalmente dos acontecimentos políticos, enquanto nós nos definimos como clássica revista ilustrada, onde a política está representada, mas não serve de rótulo para a publicação. O leitor de uma ilustrada não quer ler constantemente assuntos de política, amplamente cobertos pela televisão e os jornais", afirmava em 1985 o então redator-chefe da publicação, Gerd Braun.

Com uma tiragem inicial de 110 mil exemplares, a revista foi lançada no dia 25 de abril de 1948, mais de um ano antes da fundação da República Federal da Alemanha, como primeira ilustrada do setor alemão ocidental, dominado pelos Aliados desde o fim da Segunda Guerra.

As 24 páginas da edição de estreia traziam reportagens sobre o Conselho Econômico de Frankfurt, o programa americano para a reconstrução da Europa, o retorno do dramaturgo exilado Carl Zuckmayer (1896-1977), a morte do ator e escritor muniquense Karl Valentin (1882-1948) e notícias de esporte e moda. Tudo recheado de publicidade.

Críticas a Willy Brandt

No fim dos anos 60 e na década de 70, a revista criticava abertamente a coalizão social-liberal de Willy Brandt. O ponto máximo dessa campanha foi a publicação de documentos secretos do negociador da distensão interalemã, Egon Bahr, em meio a fotos pornográficas.

O público leitor da Quick era relativamente jovem. "Acompanhamos de perto sobretudo a evolução e emancipação das mulheres, nas duas últimas décadas", dizia Braun em 1985. Entre outros assuntos, a revista publicou duas séries de reportagens com mulheres que pretendiam se divorciar ou mantinham relacionamentos extraconjugais. Esse tipo de sensacionalismo era um escândalo, nos anos 60 e 70, já que as entrevistadas não hesitaram em revelar intimidades e emoções – incluindo as respectivas fotos.

A Quick também convenceu o sexólogo Oswald Kolle a fazer a publicação prévia de seus livros na revista. Segundo o ex-redator-chefe, uma das consequências dessa linha editorial foi que muitas jovens alemãs passaram a rejeitar relacionamentos fixos, aumentando o número de singles, que tentam conciliar a profissão com a vida amorosa e a liberdade.

A visão aparentemente progressista, emancipacionista – mas também sexista – da publicação contrastava com a posição direitista dos editores. Braun tentou minimizar esse aspecto: "Somos liberais-conservadores. Não temos preferências nem temos de escrever isso ou aquilo devido ao nosso conservadorismo. Como jornalista, sinto-me completamente livre", garantia.

Disputa com a Stern

Essa contradição entre tendências liberais e noticiário político de direita tinha um motivo. Nas décadas de 50 e 60, a Quick e a Stern travaram uma acirrada disputa pelo domínio do mercado alemão de revistas. Nos seus melhores tempos, a Stern chegou a ter uma tiragem semanal de 1,8 milhão de exemplares, seguida pela Quick, com 1,7 milhão. Para ultrapassar a Stern, identificada com posições esquerdistas, a Quick optou por uma linha editorial direitista.

No dia 26 de agosto de 1992 – um dia antes da entrega do que seria o último número, com apenas 700 mil exemplares – o editor Heinrich Bauer surpreendeu seus funcionários com a informação de que a revista deixaria de circular. Ele justificou a medida com a queda à metade do volume de anúncios nos últimos dois anos. Assim era impossível manter "a mãe das ilustradas", adquirida pelo grupo em 1966. O motivo da perda de publicidade seria a preferência dos anunciantes pelos meios de comunicação eletrônicos, principalmente as emissoras de televisão privadas.

Por ironia do destino, Bauer, um simpatizante declarado da União Democrática Cristã (CDU), tornou-se vítima do engajamento desse partido pela introdução da tevê comercial na Alemanha. Pessoalmente, o editor investiu os cerca de 20 milhões de dólares da venda de sua revista na aquisição de 24% das ações da emissora de tevê privada RTL.