21 de fevereiro de 1989
Desde a chamada Primavera de Praga, em 1968, Václav Havel vinha lutando por uma Tchecoslováquia mais humana. Enquanto trabalhava oficialmente numa destilaria, escreveu clandestinamente diversos artigos e ensaios em revistas literárias e de teatro. Nessas obras, distribuídas secretamente, criticava o regime comunista e exigia a libertação de presos políticos. Juntamente com 272 intelectuais, corredigiu a Charta 77, em Praga, uma iniciativa para tornar pública a opressão do governo.
A portas fechadas
Havel foi preso várias vezes. Numa deles, em 1978, a pena foi de quatro anos e meio. Ele só saiu da cadeia em 1983, embora continuando sob forte vigilância. Em fevereiro de 1989, aos 53 anos, voltou a ser condenado por "indisciplina". O julgamento a portas fechadas só foi presenciado por representantes do governo. A família recebeu permissão para assistir, mas foi proibida de conversar com Havel.
Seu irmão, Ivan Havel, queixou-se da inflexibilidade de todo o processo. Um pedido oficial para conversar com o réu foi rejeitado, e até a esposa foi impedida de conversar com o marido. "Foi desumana a maneira como eles o trataram", reclamou Olga Havel. Mas os dissidentes não silenciaram, e a opinião pública no exterior também não. O governo em Praga recebeu protestos até mesmo de artistas das vizinhas e "irmãs" comunistas Polônia, Hungria e Alemanha Oriental.
Prêmio da Paz
Václav Havel era conhecido no exterior por suas peças de teatro, que o governo comunista alegava tratar-se de trabalho ilegal. Em outubro de 1989, A Associação do Comércio Livreiro Alemão concedeu-lhe o Prêmio da Paz. Impedido de participar pessoalmente da homenagem em Frankfurt, Havel foi representado pelo ator Maximilian Schell, que leu seu discurso de agradecimento:
"Será a palavra humana tão forte a ponto de poder mudar o mundo e influenciar a história? E, se alguma vez foi tão forte, ainda o será hoje? Vivo num país onde o peso e poder de irradiação das palavras são confirmados a cada dia pelas sanções contra a livre expressão. Eu realmente vivo num país onde um congresso de escritores ou um discurso podem abalar o sistema. Sim, vivo realmente num país onde a palavra pode abalar todos os aparatos do poder, onde a palavra pode ser mais poderosa do que dez divisões."
Divisão da Tchecoslováquia
A reviravolta do outono europeu de 1989 atingiu os países socialistas como um poderoso exército. Em novembro, a oposição tchecoslovaca foi às ruas. Na praça central de Praga, 200 mil pessoas lideradas por Havel exigiram a renúncia do presidente Gustav Husak, que acabaria por ser afastado; e 70% dos trabalhadores faziam greve pela queda do governo.
O movimento, que passou a ser chamado Revolução de Veludo, foi coroado com a eleição de Havel à presidência da então Tchecoslováquia, em 29 de novembro. Em 1992, ele abandonou a presidência quando o parlamento eslovaco aprovou uma Constituição própria. O país foi dividido então em Eslováquia e República Tcheca, da qual Havel voltou a ser eleito presidente de 1993 a 2003. Havel morreu aos 75 anos de idade em 18 de dezembro de 2011.
Gábor Halász (rw)