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HistóriaIslândia

1986: Encontro Reagan-Gorbatchov marca fim da Guerra Fria

Dirk Ulrich KaufmannPublicado 12 de outubro de 2014Última atualização 12 de outubro de 2021

Em 12 de outubro de 1986, terminou em Reykjavik o encontro entre o então presidente americano Ronald Reagan e o então secretário-geral do PC soviético, Mikhail Gorbatchov. Foi um marco na superação da Guerra Fria.

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Michail Gorbatschov e Ronald Reagan
Michail Gorbatschov e Ronald Reagan Foto: AP

Já o fato de os presidentes Mikhail Gorbatchov e Ronald Reagan se reunirem foi um êxito. O chefe de Estado americano era conhecido como adversário ferrenho dos comunistas, um defensor aberto da Guerra Fria. Jamais foram esquecidas as declarações de Reagan classificando a União Soviética de "reino do mal", e tampouco sua tirada de humor duvidoso, num teste de microfones, em que declarou aberta a temporada de caça à União Soviética.

Inicialmente, os observadores da reunião realizada em 12 de outubro de 1986 em Reykjavik chegaram mesmo a pensar num fracasso completo, pois não se chegou sequer a divulgar um comunicado final conjunto.

Após seu retorno, Gorbatchov dirigiu-se ao povo soviético, resumindo as conversações com Reagan. Ele constatou que no encontro se esteve "a dois ou três passos de tomar decisões que poderiam ser históricas", mas tais passos não foram dados. "Não ocorreu a reviravolta na história mundial, apesar de isso ter sido possível."

Local do encontro escolhido a dedo

As relações tensas entre os dois estadistas foi também o motivo da escolha de Reykjavik como ponto de encontro. Nenhum dos dois queria viajar ao país do outro. Embora membro da Otan, a Islândia ficava geograficamente equidistante dos Estados Unidos e da União Soviética, exigindo assim um esforço igual de ambos.

O encontro na capital islandesa foi importante sobretudo para que os dois políticos se conhecessem e pudessem eliminar as reservas mútuas. Não se acertou de antemão que temas seriam tratados, nem que resultados poderiam ser alcançados, a fim de não criar grande expectativa pública em relação à conferência de cúpula.

Pois havia muitos problemas: de um lado, os mísseis soviéticos de médio alcance SS-20, que ameaçavam toda a Europa Ocidental. Do outro, o programa americano de defesa espacial contra mísseis SDI – apelidado de "Guerra nas Estrelas" –, que os EUA começavam a desenvolver.

Da tensão à aproximação

A questão dos mísseis de médio alcance era conhecida e negociável, em princípio. Na pior das hipóteses, Moscou estacionaria os seus mísseis SS-20, o Ocidente responderia com o estacionamento dos mísseis Pershing e a situação do equilíbrio de forças permaneceria quase inalterada. Mas o programa SDI era algo distinto: tratava-se de um sistema meramente defensivo, visando exclusivamente impedir o lado oposto de utilizar efetivamente suas próprias armas. E tal era visto como ameaça não apenas pelos marechais soviéticos.

Reagan também admitiu abertamente que as conversações não obtiveram nenhum resultado concreto. Mas manifestou-se de maneira mais diplomática que o seu colega russo: "As conversações que encerramos agora foram francas e, devo dizer, muito úteis. (…) Falamos abertamente sobre as nossas divergências de opinião." Ao contrário de Gorbatchov, Reagan enumerou em primeiro lugar os pontos nos quais havia concordância:

"Em diversos pontos críticos, obtivemos progressos maiores que o esperado. Quase chegamos a um acordo sobre uma redução drástica dos mísseis de médio alcance na Europa e na Ásia. Concordamos quanto a uma forte redução dos arsenais estratégicos dos dois países. Também obtivemos progressos no setor dos testes de armas atômicas."

Finalmente, Reagan esclareceu o motivo do fracasso no entendimento com Gorbatchov: "A União Soviética exige que assinemos um tratado que nos veda – a mim e a todos os presidentes que me sucederem – o direito de desenvolver e instalar um sistema de defesa que possa proteger o mundo livre dos ataques com armas atômicas. Isto nós não fizemos e não faremos!".

Proposta inesperada abriu novos caminhos

Mas, antes de retornarem a seus países, Reagan e Gorbatchov manifestaram o desejo de se reunir mais uma vez. Nesse encontro adicional, Reagan apresentou uma proposta espontânea que surpreendeu não apenas Gorbatchov.

Tampouco a diplomacia americana tinha previsto tal passo. Posteriormente, Reagan descreveu da seguinte maneira a sua sugestão: "No final da tarde, apresentei ao secretário-geral uma proposta inteiramente diferente. Uma moratória de dez anos para o desenvolvimento do programa SDI e, em contrapartida, a completa destruição de todos os mísseis dos respectivos arsenais dos nossos países!".

A longo prazo, foi essa última e inesperada sugestão que quebrou o gelo nas relações bilaterais. O encontro de Reykjavik atingiu assim seus objetivos: Reagan e Gorbatchov conseguiram uma aproximação pessoal e a desconfiança recíproca foi eliminada.

Mas a conferência de cúpula da Islândia foi também um verdadeiro marco na superação da Guerra Fria. Pela primeira vez, os líderes das duas superpotências declararam publicamente a sua disposição de destruir armas já existentes. Tais medidas, negociadas e postas em prática mais tarde, foram o começo de um relacionamento de confiança entre as duas partes.

Sem o entendimento de Reykjavik, o fim do Pacto de Varsóvia não teria sido pacífico. Tampouco teria sido viável a posterior unificação da Alemanha.