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MídiaAlemanha

25 de abril de 1983

Sabine Ochaba (gh)

Em sua edição de 25 de abril de 1983, a revista "Stern" noticiou falsamente que Hitler havia escrito mais de 60 diários, de junho de 1932 a meados de abril de 1945. Um fiasco jornalístico de proporções históricas.

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Gerd Heidemann
O repórter Gerd Heidemann apresenta os supostos diários de Hitler, em 25 de abril de 1983Foto: picture-alliance/dpa

Parecia uma perfeita sensação mundial. Depois de três anos de investigação, o jornalista Gerd Heidemann, da revista Stern, dizia ter encontrado os "Diários de Hitler" e que "grande parte da história do Terceiro Reich teria de ser reescrita". O editor-chefe Peter Koch não tinha dúvidas quanto à autenticidade dos diários, supostamente comprovada pela revista através de renomados historiadores e peritos em análise de caligrafia.

Outros meios de comunicação suspeitavam tratar-se de uma jogada publicitária da Stern. Para uns, os documentos eram uma bomba política; para outros, uma falsificação de alto nível. O jornal francês Le Figaro supunha que os diários vinham da KGB. A Academia de Ciências de Moscou os considerava obra de neonazistas, enquanto o ex-espião inglês George Young via neles um produto da Stasi, a polícia secreta da antiga Alemanha comunista.

Em toda a literatura sobre o Terceiro Reich, não havia qualquer indício de que Hitler fizera tais anotações ou de que alguém o houvesse visto escrevendo. Ele teria evitado escrever à mão, pois tremia muito devido ao mal de Parkinson. Há quem diga que saíra aleijado no braço direito do atentado de 20 de julho de 1944, e, por isso, sempre ditava seus textos.

O jornal inglês Sunday Times se negou a publicar os diários até que sua autenticidade fosse comprovada. O jornal havia caído numa armadilha semelhante ao publicar, em 1967, um suposto diário do ditador italiano Benito Mussolini, falsificado por duas idosas.

Fiasco histórico

Pressionada pela opinião pública, a Stern permitiu que os "Diários de Hitler" fossem analisados por um grupo de especialistas do Arquivo Federal, do Serviço Federal de Investigações e do Departamento de Análise de Materiais. Os peritos constataram que os papéis utilizados não existiam na época de que os diários supostamente datavam. Além disso, os selos eram falsos, uma inicial estava errada e a caligrafia havia sido falsificada. Tanto o material quanto o conteúdo eram falsos.

O jornalista Gerd Heidemann foi demitido por justa causa. O jornal Stuttgarter Nachrichten foi o primeiro a descobrir o falsificador: Konrad Kujau – pseudônimo "Konrad Fischer" –, um negociante de artigos militares em Stuttgart. No dia 26 de maio de 1983, ele foi preso, confessou o crime e assegurou que tudo não havia passado de "uma brincadeira".

Enquanto segundo Heidemann, Kujau teria recebido mais de 9,3 milhões de marcos da revista, ele próprio dizia ter recebido "apenas" 2,7 milhões de marcos (aproximadamente 1,4 milhão de euros em valores atuais). O repórter Gerd Heidemann foi condenado pela Justiça a quatro anos e oito meses de prisão, e o falsificador, Konrad Kujau, a quatro anos e meio. O que deveria ser a maior sensação jornalística do pós-guerra tornou-se o maior fiasco da história da imprensa alemã.