1979: Khomeini retorna ao Irã
Publicado 1 de fevereiro de 2014Última atualização 1 de fevereiro de 2021"Khomeini, somos todos seus soldados", gritavam milhões de pessoas em Teerã, em marcha pela capital iraniana. Isso durou mais de um ano, até que vieram as consequências. Longos protestos e distúrbios tinham obrigado o xá a deixar o país em meados de janeiro.
A dinastia imperial desabou como um castelo de cartas e o xá foi derrubado do trono. Os líderes religiosos da revolução assumiram o poder, criando uma República Islâmica, entendida como um Estado teocrático. Após 13 anos de exílio, o ancião aiatolá Khomeini, líder religioso e revolucionário, retornou a Teerã sob o júbilo esperançoso de milhões de iranianos.
Mesmo que Khomeini tenha visto a questão posteriormente de forma distinta: o que ocorreu no Irã, no final dos anos 1970, foi inicialmente uma revolução política, não islâmica. O reinado autoritário do xá, uma oligarquia que vivia da corrupção e do nepotismo; a repressão de longa data através dos órgãos de segurança iranianos e a influência do Ocidente, dominante não apenas no setor econômico mas também na política, levaram a um afastamento entre a liderança do país e o povo.
Como surgiu o fundamentalismo
O sentimento da população de que teria de arcar com os benefícios usufruídos pelos americanos e pelo xá fez acumular a amargura durante anos a fio, até que ela explodiu numa ação política. Essa resistência teve de ser organizada e o único espaço livre disponível durante a ditadura do xá era oferecido pelas mesquitas.
Assim, os líderes religiosos puseram o pé na soleira revolucionária, no início, sendo mais acompanhantes que iniciadores. Ainda não se falava de fundamentalismo islâmico. Essa hora só chegou quando a revolução obteve êxito, para surpresa geral. Teve-se então de encontrar um novo conceito social.
Ele foi oferecido pelo aiatolá Khomeini com sua doutrina islâmica. Pois ela continha tudo o que a castigada alma popular desejara nos longos anos da ditadura: o isolamento do Ocidente, considerado decadente e explorador; a rejeição do Leste ateu e, em vez disso, um retorno à religião e à tradição próprias e assim, a base cultural para uma nova autoconfiança. Era o que se tinha de impor – com a ajuda da jihad, a guerra santa – contra os inimigos internos e externos.
Luta pelo poder continuou
Foi impressionante a rapidez com que foram reprimidos todos os grupos que não defendiam a linha do líder revolucionário. O partido Tudeh, comunista, e os grupos de luta marxistas, que deram uma contribuição substancial para o êxito militar da revolução, foram desmantelados pela guarda revolucionária, antes mesmo de notarem que já não estavam do lado dos vencedores.
Com a criação de um Estado centralista, que nada ficava a dever ao do xá, no qual tudo era decidido em Teerã e não mais em outras partes do país, Khomeini assumiu o controle dos diversos grupos minoritários no país multiétnico. E, com a ajuda dos comandos de execução, extremamente ativos em todo o país, foi feito processo sumário a todos aqueles que lamentavam o fim do regime imperial ou que defendiam uma democracia civil.