1976: Explosão provoca vazamento de dioxina em Seveso
Quarenta e um galões continham uma substância altamente venenosa: o TCDD. Dois milhões e 200 mil toneladas de terra, contaminadas com 200 gramas desse veneno, conhecido como dioxina, são mil vezes mais tóxicas do que o composto letal cianeto de potássio (cianureto).
Duzentos gramas de dioxina dissolvidas em água são capazes de provocar a morte de um milhão de pessoas. Os galões de dioxina dester caso eram originários de uma fábrica de produtos químicos de Seveso, no norte da Itália.
Superaquecimento no reator
No dia 10 julho de 1976, ocorreu um superaquecimento do reator de dioxina e o veneno foi liberado no meio ambiente, através de uma válvula defeituosa. A fábrica não dispunha de sistema de advertência nem planos de alarme à população. O prefeito local, avisado do acidente com 27 horas de atraso, não foi informado de que se tratava de um vazamento de dioxina.
Repentinamente, pássaros atingidos pela nuvem tóxica começaram a cair do céu e crianças foram hospitalizadas com diarreia, enjoos e irritação na pele. Nove dias após o acidente, mencionou-se, pela primeira vez, a palavra "dioxina".
Contaminação em grande escala
A fábrica só foi interditada quando a nuvem havia atingido cerca de 30 mil moradores da redondeza. Uma área de 1.800 hectares de terra estava contaminada e 75 mil animais morreram ou tiveram que ser abatidos.
O solo contaminado foi removido e lacrado em duas bacias de concreto do tamanho de um estádio de futebol. Somente o conteúdo do reator foi guardado em 41 galões para tratamento final.
Travessia de fronteira
Em setembro de 1982, um caminhão atravessou despercebido a fronteira entre Itália e França com a perigosa carga, identificada apenas com a sigla TCDD, aparentemente desconhecida da polícia alfandegária.
Os documentos apresentados pelo motorista não mencionavam a palavra dioxina nem a cidade de origem do produto – Seveso. A carga ainda foi vista em Sant Quentin, ao norte de Paris, antes de sumir sem deixar rastro.
Isenção de responsabilidade
O conglomerado químico suíço Hoffmann-La Roche fora responsável pelo transporte, já que o veneno vinha de uma de suas filiais. Mas a empresa suíça encarregara a Mannesmann italiana para dar um tratamento final à perigosa substância. A Mannesmann cobrou 180 mil marcos pelo serviço, que repassou a duas firmas fantasma, chamadas Vadir e Spelidec.
Depois do sumiço, todos os envolvidos tentaram se isentar da responsabilidade. Começou um jogo de empurra entre a Hoffmann-La Roche, a Mannesmann e a Spelidec. O suposto dono da transportadora Spelidec, Bernard Paringaux, garantiu à La Roche, em documento autenticado em cartório, que o veneno fora depositado legalmente, sem dizer aonde. Ele acabou sendo preso, mas manteve o silêncio. A Hoffmann-La Roche e a Mannesmann também.
Durante oito meses, os galões desaparecidos foram procurados em toda a Europa. A participação de detetives e serviços secretos na busca aumentou a pressão sobre as firmas envolvidas no escândalo. Muitos médicos passaram a boicotar produtos farmacêuticos da La Roche.
Esconderijo do veneno
Finalmente, em maio de 1983, Bernard Paringaux reveleu o esconderijo do veneno. Ele depositara os barris de dioxina num sítio, a 60 metros de uma escola, num vilarejo de 300 moradores, no norte da França. Nove anos depois da catástrofe, o lixo tóxico foi incinerado em Basiléia, na Suíça.
O número de vítimas de doenças cardíacas e vasculares em Seveso aumentou drasticamente, as casos de morte por leucemia duplicaram e triplicaram-se as ocorrências de tumores cerebrais. Os casos de câncer do fígado e da vesícula multiplicaram-se por dez vezes e aumentou o número de mortes em decorrência de doenças da pele.