7 de junho de 1973
"Todos aqui hão de me entender, se eu disser que as relações teuto-israelenses têm um caráter especial e que esta característica não mudará nunca. Para nós, não poderá haver neutralidade de coração e de consciência". Foi o que declarou o ex-chanceler federal alemão Willy Brandt diante do Parlamento Europeu em novembro de 1973. Com esse discurso, ele rejeitou todas as tentativas de caracterizar as relações entre as Alemanha e Israel como "normais e rotineiras".
O atual Estado de Israel foi criado oficialmente a 14 de maio de 1948, três anos após a derrota do nazismo. Ele tem sua origem no sionismo – movimento surgido na Europa, no século 19, que pregou a criação de um país onde os judeus pudessem viver livres de perseguições. É também o representante legal das vítimas do Holocausto. Na sua fundação, ninguém podia imaginar que um dia Israel pudesse manter relações diplomáticas com a Alemanha, que exterminou seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial.
Reparação de danos
Quatro anos mais tarde (em 1952), porém, o então chanceler federal alemão Konrad Adenauer e o fundador de Israel, David Ben Gurion, já assinaram um acordo, importante no caminho da aproximação entre os dois países. Tratou-se do acordo de reparação dos danos causados aos judeus. Embora evitassem visitas oficiais, os dois estadistas mantinham estreitas relações pessoais e tiveram um primeiro encontro histórico a 14 de março de 1960, no Hotel Waldorf Astoria, em Nova York. Somente após sua renúncia em 1963, Adenauer visitou Israel. Em "caráter particular", Ben Gurion participou do enterro do ex-chanceler alemão, em 1967.
As relações diplomáticas somente foram reatadas em 1965, no governo de Ludwig Erhard (1963-1967). Diante da reação crítica do mundo árabe, inicialmente ainda foram evitadas visitas mútuas dos chefes de Estado. Finalmente, a 7 de junho de 1973, o líder social-democrata Willy Brandt, acompanhado pelo escritor Günther Grass, realizou sua primeira viagem oficial a Israel, então governado por Golda Meir (1998-1978). Brandt foi recebido com todas as honras e sua agenda não divergiu da de outros chefes que visitassem oficialmente Israel.
Um dos principais assuntos das conversações de Brandt foi a crise e ameaça de guerra na região. "O conflito no Oriente Médio talvez nos toque mais do que outros. É um apelo à nossa séria responsabilidade", disse. Para ele, o fato de um governo alemão se interessar especialmente pela paz na região era uma obviedade. Brandt, porém, teve o cuidado de não tomar partido, ressaltando que a Alemanha não tinha qualquer legitimação para atuar como intermediadora no conflito. "Somos a favor de uma solução pacífica, negociada e aceita pelas partes diretamente envolvidas", disse.
Golda Meir não pôde retribuir visita
A visita de Willy Brandt contribuiu decisivamente para a melhoria das relações entre a Alemanha e Israel, mas não para a pacificação do Oriente Médio. Poucos meses depois, em outubro de 1973, eclodiu a Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão). Num ataque de surpresa, o Egito e a Síria avançaram no Sinai e em Golã, de onde só foram expulsos depois de muito esforço por Israel. Em conseqüência da guerra, a primeira-ministra Golda Meir foi obrigada a renunciar, em 1974, sem ter podido retribuir a visita de Brandt, o que seria feito por seu sucessor, Yitzhak Rabin, em 1975.
A viagem de Rabin à Alemanha foi o passo seguinte rumo à normalização das relações entre a Alemanha e Israel. Mesmo assim, até hoje não se pode falar de uma "normalização definitiva", como já ressaltou Brandt em 1973: "As relações teuto-israelenses – e isso eu quero sublinhar – precisam ser vistas diante do sombrio pano de fundo do regime de terror nazista. E é exatamente nisso que pensamos quando dizemos que as nossas relações normais têm um caráter especial", concluiu Brandt.