1972: Beuys demitido da Academia de Belas Artes
Publicado 10 de outubro de 2015Última atualização 10 de outubro de 2022Um dos mais singulares artistas alemães, Joseph Beuys nasceu no dia 12 de maio de 1921, em Krefeld, oeste da Alemanha. Entre 1927 e 1938 viveu em Kleve, onde frequentou o ateliê do escultor Achiles Moortgat. Foi obrigado a alistar-se no Exército alemão em 1942, aos 19 anos, servindo como piloto da Força Aérea Alemã (Luftwaffe) nos bombardeios da Ucrânia e da Crimeia.
Seu avião foi abatido sobre a Crimeia, e ele acabou gravemente ferido. Socorrido por moradores, teve o corpo coberto de gordura animal e envolvido em feltro para curar-se das queimaduras. O acidente e a forma como sua vida foi salva o marcariam para sempre. As cicatrizes na cabeça o obrigaram a usar um chapéu, sua marca registrada. Já o sebo e o feltro tornaram-se materiais constantes na sua obra, assim como a cera e o cobre.
Em 1946, retornou à casa dos pais, em Kleve, iniciando os estudos de Ciências Naturais e a dedicação às artes. Estudou com Ewald Mataré, na Academia de Belas Artes (Kunstakademie) de Düsseldorf até 1948. Quatro anos depois, conheceu a antroposofia de Rudolf Steiner e, influenciado por seus ensaios sobre as abelhas, desenvolveu a teoria da escultura específica.
Realizou no ano seguinte sua primeira mostra individual, com desenhos e xilogravuras, em Kranenburg e Wuppertal. Em 19 de setembro de 1959, casou-se com Eva Wumbach, professora de Artes. Dois anos depois foi designado professor da Academia de Belas Artes de Düsseldorf, cidade onde passou a residir.
Artista com engajamento político
Em 1967, 20 dias após e o assassinato do universitário Benno Ohnesorg em Berlim, durante uma manifestação contra o xá da Pérsia, Beuys fundou o Partido Universitário Alemão. Seu objetivo era a autonomia das escolas superiores e um sistema de seleção mais democrático, sem que os alunos tivessem de comprovar aptidões artísticas para conseguirem uma vaga.
Prosseguiu suas atividades políticas em 1970, quando fundou a Organização dos Não-Eleitores, Plebiscitos Livres. Neste mesmo ano, o Museu do Estado de Hessen expôs em Darmstadt toda a sua obra, com gravuras, pinturas instalações e esculturas, no chamado "Beuys Block".
Em 1971, Beuys ocupou pela primeira vez a secretaria da Academia em Düsseldorf, exigindo a aceitação de alunos rejeitados. No ano seguinte, a 10 de outubro, voltou a ocupar a secretaria, com 60 candidatos excluídos, tentando forçar a matrícula destes.
No mesmo dia, recebeu uma carta de demissão, assinada pelo então secretário estadual de Pesquisas e Ciências, Johannes Rau (que viria mais tarde a se tornar presidente da Alemanha). Beuys deixou o prédio no dia seguinte, sob escolta policial. Numa carta aberta, intelectuais alemães como Heinrich Böll e Martin Walser protestaram contra a demissão sumária do artista e professor. Os universitários manifestaram-se através de greves de fome e passeatas em Düsseldorf.
Cátedra recuperada na Academia
Joseph Beuys fundou, em 1973, a Escola Superior Internacional Livre para Criatividade e Pesquisa Interdisciplinares, em Düsseldorf. Desde 1964, já vinha participando regularmente da Documenta, em Kassel, e, em 1976, colaborou com a Bienal de Veneza.
Somente em 1978 a Justiça lhe deu ganho de causa, e a demissão na Academia de Belas Artes foi considerada ilegal. Ele recebeu de volta o título de professor (catedrático) e pôde continuar usando seu ateliê. Beuys iniciou então uma livre docência na Escola Superior de Artes Aplicadas de Viena e começou a se engajar na criação do Partido Verde.
Em 1979, foi o único artista alemão a participar da 15ª Bienal de São Paulo, onde apresentou a obra Brazilian Fond. No final desse ano, realizou uma grande mostra retrospectiva no Museu Guggenheim, de Nova York. O Museu Seibu, de Tóquio abriu suas portas para Beuys em 1984, e em 1985 ele participou, em Londres, da abertura da exposição Arte Alemã no Século 20. Pintura e Escultura 1905-1985.
Joseph Beuys morreu de parada cardíaca a 23 de janeiro de 1986, em Düsseldorf, após sofrer uma infecção pulmonar. Sua frase "cada pessoa é um artista" se tornou uma das máximas do circuito de artes nos anos que se seguiram. Beuys insistia em abolir as fronteiras entre "vida" e "arte", vendo o mundo como "uma obra", e a arte como "a concretização máxima da liberdade".