11 de abril de 1968
Na primavera europeia de 1968, o líder estudantil Rudi Dutschke, sua Oposição Extraparlamentar (Ausserparlamentarische Opposition – APO) e os grupos de esquerda viam a Alemanha Ocidental a caminho de se tornar um Estado policial. Eles responsabilizavam o governo do chanceler federal Kurt Georg Kiesinger e os jornais do grupo editorial Springer pela truculência da polícia e da direita.
Era época da revolta de milhares de estudantes contra a autoridade dos pais, da universidade e do Estado. Dutschke vinha de uma família protestante do leste alemão. Devido à sua confissão religiosa, não recebeu licença para ingressar na universidade na antiga Alemanha comunista, restando-lhe a opção de um curso superior técnico.
Ainda antes da construção do Muro de Berlim, em 1961, fugiu para o lado ocidental, onde começou a estudar Sociologia na Universidade Livre de Berlim. Um ano depois, participou da criação da Ação Subversiva, que mais tarde se aliou à União Universitária Alemã.
Em 1965, Dutschke foi eleito para o conselho político da União e a partir daí passou a participar ativamente de manifestações e protestos centrados na crítica ao establishment. Entre os maiores, em Berlim, estiveram a passeata contra a Guerra no Vietnã e a manifestação contra a visita do xá da Pérsia à Alemanha.
Não passava um dia sem que o jornal sensacionalista Bild, do grupo Springer, usasse em suas manchetes a palavra "terrorismo" associada à imagem de Dutschke, então com 28 anos. O estudante pretendia dar uma nova feição à ideia da revolução permanente de Lênin e, principalmente, de Trótski. Além disso, junto com sua Oposição Extraparlamentar e inspirado em Che Guevara, defendia a necessidade de trazer a guerrilha urbana às metrópoles da Europa.
Em abril de 1968 o grupo terrorista alemão Fração do Exército Vermelho (RAF) já detonava suas primeiras bombas. Dutschke, ao contrário, admitia a violência somente em casos extremos. Considerado um teórico do movimento estudantil e da nova esquerda alemã, distanciou-se claramente das ações terroristas, que mais tarde conceituou como "destruição da razão".
O atentado
Depois da morte do universitário Benno Ohnesorg, baleado por um policial durante uma manifestação em 1967, Dutschke centrou seus protestos no autoritarismo. Além disso, participou da campanha que exigia a desapropriação dos bens de Axel Springer.
No dia 11 de abril de 1968, foi gravemente ferido por um tiro na cabeça, disparado por um operário tido como de extrema direita. No meio estudantil, o grupo Springer foi acusado de instigar o atentado, com suas reportagens tendenciosas. Seguiram-se protestos tanto na Alemanha quanto no exterior.
Após várias cirurgias, Dutschke buscou recuperação na Suíça, na Inglaterra e na Itália. Durante a convalescença, contou com o apoio de intelectuais de esquerda como o compositor Hans Werner Henze, que o hospedou em sua residência na Itália.
Passou a estudar em Cambridge em 1970, mas foi expulso da Inglaterra por "atividades subversivas", passando a lecionar na Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Dois anos depois, retornava a Berlim.
Em 1974, publicou uma forma popularizada de sua dissertação sobre o marxista húngaro Georg Lukács. No livro, Dutschke descreveu como imaginava uma Alemanha socialista, sem a ingerência de Moscou, Pequim ou Berlim Oriental.
Por diversas vezes, viajou para a então Alemanha Oriental, a Noruega e a Itália, onde fez palestras sobre direitos humanos e a Europa Oriental. Além disso, Dutschke escreveu para diversas publicações de esquerda, participou de manifestações contra usinas nucleares e engajou-se pelo Partido Verde.
Porém as sequelas do grave atentado de 1968 o consumiram lentamente, enfraquecendo-o até causar sua morte em 24 de dezembro de 1979, aos 39 anos, na Dinamarca. O militante de longos cabelos escuros, o menos dogmático dentre os líderes da esquerda alemã, morreu afogado na banheira, durante um ataque de epilepsia, que desenvolvera em consequência do ferimento na cabeça.