1957: Primeiro reator nuclear da Alemanha
No início dos anos 1950, a energia atômica era tida como o começo de uma nova era, o urânio era um símbolo da energia inesgotável e da libertação das pessoas do trabalho pesado. Hoje causa admiração a forma ingênua e o entusiasmo com que, naquela época, os reatores atômicos foram planejados, construídos e receberam alvará de funcionamento.
Somente na então Alemanha Ocidental, o entusiasmo mundial pela energia nuclear não trouxe resultados imediatos, pois o país ainda vivia sob o regime das restrições impostas pelos Aliados ao setor da pesquisa, em especial da pesquisa atômica. Somente em 1955 é que tais obstáculos foram removidos, através dos Tratados de Paris.
Isso ocorreu exatamente a tempo para que uma delegação alemã ocidental pudesse ser enviada à primeira conferência das Nações Unidas sobre o aproveitamento pacífico da energia nuclear, em Genebra. Nessa conferência, os Estados Unidos surpreenderam o mundo com uma promessa: todo país industrializado que construísse um reator atômico receberia do governo americano uma subvenção da ordem de 350 mil dólares.
Primeiro reator alemão
Para os cientistas e jornalistas que acompanharam a conferência, ficou claro o atraso técnico-científico da Alemanha Ocidental nos setores da física e da técnica nucleares. Nas semanas seguintes, foi desencadeada uma verdadeira campanha junto à opinião pública em prol do setor atômico e da energia nuclear. Finalmente, o então chanceler federal Konrad Adenauer reagiu ao debate, criando o Ministério da Energia Atômica, com Franz-Josef Strauss como primeiro titular da pasta.
Muitas das decisões básicas do setor são da sua lavra. Strauss não desejava um órgão estatal regulador da energia atômica, segundo o modelo americano e britânico. Por essa razão, todas as prerrogativas de concessão e de controle foram atribuídas aos governos estaduais; a pesquisa nuclear foi integrada às universidades e o desenvolvimento da técnica nuclear deveria ocorrer no âmbito das empresas, a fim de que a indústria alemã adquirisse rapidamente uma competência no setor.
Através da descentralização da pesquisa atômica, as cidades e respectivas universidades entraram em disputa aberta pela construção de reatores de pesquisa. Esforços especialmente intensos foram feitos pelo físico Werner Heisenberg, bem como pelo prefeito da cidade de Karlsruhe.
Heisenberg era ainda professor em Göttingen, mas desejava transferir-se para Munique e propôs a Adenauer a construção de um Centro de Pesquisa de Irradiação Nuclear na capital bávara. Para Adenauer, no entanto, a localização proposta era estrategicamente perigosa, por ser muito próxima à fronteira com o "bloco soviético": o centro de pesquisa acabou sendo construído em Karlsruhe.
Heisenberg ficou magoado, mas o governo estadual bávaro o consolou com um presente especial: no verão europeu de 1956, foi autorizada a construção de um reator de pesquisa em Garching, nos subúrbios de Munique, bem como a constituição de um instituto de pesquisas responsável pelo seu funcionamento. A subvenção do governo americano ajudou no financiamento das instalações.
Tempo recorde
O resto transcorreu de forma muito rápida: uma semana depois da resolução do governo bávaro, o diretor da Comissão Atômica da Baviera viajou para Nova York e encomendou um reator nuclear. O terreno em Garching foi preparado em tempo recorde para a construção do prédio do Reator de Pesquisa de Munique (sigla alemã FRM). O formato oval da cúpula do reator acabou rendendo ao FRM um apelido popular: o "ovo atômico de Garching".
No dia 31 de outubro de 1957, o reator entrou em funcionamento. Os instrumentos de medição acusaram o processo e do tanque de água do reator emergiu uma luz azulada: tinha início a primeira reação nuclear em cadeia produzida em solo alemão.
O "ovo atômico" tornou-se o ponto de partida de um desenvolvimento que transformou a localidade rural de Garching, em pouco tempo, num centro de tecnologia avançada. Naquele reator, foram realizadas as mais diversas experiências, desde complicados experimentos de física nuclear até exames dos efeitos da irradiação sobre materiais e seres vivos.
O reator foi utilizado até os anos de 1990, quando seu desempenho foi considerado muito fraco para os experimentos mais modernos. Na sua vizinhança imediata foi construída uma nova instalação, o FRM-II.
Mas, ao contrário do "ovo atômico", o seu sucessor teve de vencer diversos processos judiciais, antes que pudesse ser construído: o principal argumento contrário a ele foi o fato de ser alimentado com urânio altamente enriquecido, que serve também de matéria-prima para a construção de armas nucleares.
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