25 de dezembro de 1952
Na época, o que Marshall McLuhan chamaria de "aldeia global" não era cogitado, nem mesmo em sonho. Em 25 de dezembro de 1952, a emissora pioneira da Alemanha Ocidental entrava no ar com a transmissão de seu primeiro telejornal. E quatro dias antes, a Alemanha Oriental (RDA), de regime comunista, já havia iniciado suas transmissões. No Brasil, a TV Tupi já operava desde setembro de 1950.
O noticiário alemão ocidental "das oito" – o Tagesschau – viria a tornar-se o mais tradicional da telinha no país, mesmo depois da reunificação, em 1990. A primeira versão registrou cerca de 10 mil telespectadores. Na época, havia apenas 1.500 aparelhos de TV registrados.
A transmissão, marcada inicialmente pela improvisação, não primava pela qualidade. Se quisesse melhorar a qualidade da imagem recebida, o telespectador era obrigado a girar sua antena manualmente. Uma mera mudança de canal poderia levar até 20 minutos.
Guiados pela telinha
Assim como os telespectadores de outros países, também os alemães habituaram-se a passar horas à frente da TV. O novo meio de comunicação desencadeou uma revolução silenciosa nos lares, transformando a família em uma espécie de "minipúblico", como observou o filósofo Günther Anders em 1956. Com o tempo, a agenda social passou a ser guiada pelos horários da telinha.
Em seus primórdios, a TV alemã era um privilégio da elite. No final da década de 50, apenas 3,4 milhões de lares possuíam aparelhos receptores. Acontecimentos de interesse popular, como a coroação da rainha da Inglaterra, em 1953, ou a Copa do Mundo de 1954, realizada na Suíça, impulsionaram a venda de equipamentos e sua conseqüente massificação.
Direito público
Devido à experiência negativa do rádio, que fora instrumentalizado pelos nazistas, e à presença dos Aliados no país durante o pós-guerra, a Alemanha Ocidental adotou o sistema de radiodifusão de direito público. Trata-se de emissoras autárquicas – não estatais – financiadas por taxas pagas pelos próprios ouvintes e telespectadores e por publicidade.
No início dos anos 80 foi admitida a primeira televisão comercial no país. Teoricamente as emissoras de direito público seriam responsáveis por oferecer à população programas de conteúdo mais educativo e informativo, cabendo aos canais privados uma linha direcionada ao entretenimento. Devido à luta pela audiência, os últimos anos mostram que as emissoras de direito público têm se voltado cada vez mais a programas de divertimento mais fácil e digerível, nos moldes das TVs privadas.
Documentando a história
No decorrer de sua história, a TV alemã serviu de testemunha da história do país, documentando, por exemplo, desde a construção do Muro de Berlim, em 1961, até sua queda, em 1989. A transmissão do grande acontecimento da década de 80 é relembrada por Rüdiger Steinmetz, professor da Universidade de Leipzig:
"Depois das primeiras notícias, ficou claro para todos o que tinha acontecido. O Muro tinha caído. Às 22 horas e 42 minutos, o então apresentador de notícias da ARD, Hans-Joachim Friedrichs, anunciava: 'Este 9 de novembro é um dia histórico. Os portões do Muro estão abertos'."
Hoje, o mercado televisivo alemão é partilhado por duas emissoras nacionais (ZDF e ARD) e 11 emissoras regionais de direito público, além de uma série de canais comerciais. Apesar da ascensão da internet, as crianças do país entre três e 14 anos de idade assistem televisão cerca de duas horas por dia, em média.