1948: Corredor aéreo abastece Berlim Ocidental
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, da mesma forma como a Alemanha havia sido dividida em dois Estados – um administrado pelos Aliados ocidentais e o outro, pelos soviéticos – também a cidade de Berlim foi dividida em duas partes: a oriental e a ocidental. Por localizar-se no leste do país, Berlim Ocidental era um enclave da Alemanha Oriental.
Em represália à determinação dos Aliados de introduzir o marco alemão como unidade monetária também em Berlim Ocidental, de 23 para 24 de junho de 1948 o então chefe de estado soviético Josef Stalin ordenou o bloqueio de rodovias e ferrovias e do transporte fluvial.
Como a cidade de 2,2 milhões de habitantes ainda estivesse em ruínas, ela dependia completamente da ajuda externa. Isolado das zonas ocidentais e de Berlim Oriental, o oeste de Berlim ficou sem luz e alimentos até 12 de maio de 1949, dia em que a União Soviética encerrou o bloqueio.
O administrador militar da zona americana, general Lucius Clay, sugeriu quebrar o bloqueio usando tanques, mas a ideia foi rejeitada por Harry Truman, presidente norte-americano na época, que temia os riscos de uma provocação aos soviéticos.
Gêneros básicos e usina termelétrica completa
A resposta dos Aliados foi o abastecimento pelo ar – ou Operação Vittles, a maior e mais importante operação aérea de ajuda humanitária já realizada. Os três corredores aéreos de 32 quilômetros de largura ligando Berlim a Hamburgo, Frankfurt e Bückeburg haviam sido aprovados pelos Aliados já em 30 de novembro de 1945, para o transporte regular entre a Alemanha Ocidental e Berlim Ocidental.
De 26 de junho de 1948 a 12 de maio do ano seguinte, foram realizados 277.278 voos e transportadas 2.326.205 de toneladas de gêneros básicos – principalmente carvão e alimentos, mas também os componentes para a montagem de uma usina termelétrica completa. Os principais destinos em Berlim eram a base aérea britânica de Gatow e os aeroportos Tempelhof e Tegel.
Para as crianças, os voos tinham um significado especial, pois também traziam chocolates e doces, muitas vezes jogados em pequenos pacotes pelo Rosinenbomber (bombardeiro das passas), em alusão aos enormes aviões que em vez de bombas jogavam doces.
Gail Halvorsen é um dos pilotos que entrou para a história. Foi ele que teve a ideia de jogar pela janela, durante a aterrissagem, chocolates e gomas de mascar amarrados em lenços de pano que caíam ao chão como minúsculos paraquedas.
Certo dia em julho de 1948, ao pousar em Tempelhof e ver um grupo de crianças, pensou em lhes dar um presente. O que tinha naquele momento eram apenas duas gomas de mascar, que partiu em vários pedaços e distribuiu entre a criançada.
A fascinação e satisfação foram tão grandes que Halvorsen prometeu que da próxima vez traria mais e jogaria do avião. Seus colegas se deixaram contagiar pela felicidade das crianças e o imitaram. Até o final da ponte aérea, em 1949, haviam sido distribuídas 20 toneladas de chocolates, gomas de mascar e outras guloseimas.
Uma aterrissagem a cada 63 segundos
Para a época, uma operação aérea desse porte foi um acontecimento ímpar, principalmente pela logística exigida. Em poucas semanas, haviam sido reunidos em Frankfurt mais de 200 aviões para a tarefa. Foram removidas poltronas e paredes para o acondicionamento de carne, farinha e carvão, enquanto tanques especiais foram ampliados para o transporte de mais combustível.
O primeiro grande problema logístico foi a organização do cronograma: os aviões mais lentos tinham uma hora para aterrissar, enquanto os mais rápidos dispunham de 45 minutos. O piloto que não conseguisse pousar no tempo previsto era obrigado a retornar com a carga a Frankfurt, para não atrasar os demais.
O ponto alto da operação – e que levou a um registro no livro Guinness de Recordes – foi a parada de Páscoa de 16 de abril de 1949, quando num único dia foram transportadas 12.940 toneladas de carvão, combustível e alimentos. A cada 63 segundos pousava um avião sobre uma pista provisória de metal em Gatow e Tegel.
Mesmo a pista, construída há 60 anos por 19 mil berlinenses, principalmente mulheres, merece registro histórico: em apenas 85 dias, trabalhando dia e noite, eles conseguiram edificar em Tegel a pista de pouso e decolagem mais longa da Europa na época, com 2.400 metros de extensão.
Por envolver milhares de pessoas, o projeto também custou vidas. Nos 11 meses que durou a operação, dificuldades técnicas e o mau tempo causaram a morte de 78 pessoas, das quais 31 norte-americanos, 39 ingleses e oito alemães.