1918: Fim da era imperial da Alemanha
Publicado 28 de junho de 2009Última atualização 9 de novembro de 2020O dia 9 de novembro de 1918 foi agitado em todo o país, com pessoas se reunindo em Berlim e outras cidades, após terem ficado sabendo da renúncia do imperador Guilherme 2° (1859-1941), anunciada pelo chanceler do Reich, príncipe Max von Baden (1967-1929).
Embora Guilherme 2° não tenha sido consultado previamente, ele acabou acatando o próprio afastamento pouco depois, pondo fim, desta forma, ao Império Alemão. Em reação a esses acontecimentos, dizia-se na época, os comunistas iriam proclamar a república.
O deputado social-democrata Philipp Scheidemann, no entanto, se antecipou ao Partido Comunista da Alemanha (KPD), proclamando a república de uma sacada do Reichstag, em Berlim, ao meio-dia do 9 de novembro de 1918 – mesmo que sem o apoio de todos os seus correligionários. "Acima de tudo, quem sai vencendo é o povo", declarou Scheidemann, ovacionado por uma multidão entusiasmada.
Mas a República recém-proclamada enfrentava, já sem seu primeiro dia, sérias dificuldades. Às 16 horas, uma multidão tão grande quanto a que aplaudia Scheidemann se aglomerava no castelo de Berlim (Stadtschloss), onde Karl Liebknecht também proclamava a república.
Seu discurso culminou com a proclamação da "República livre e socialista da Alemanha", que poria um fim à hegemonia dos Hohenzollern. No lugar do odiado estandarte imperial, deveria ser desfraldada a "bandeira vermelha da República Livre Alemã".
A jovem República encontrava-se num dilema numa sociedade dividida. Para alguns, a Revolução Russa de novembro de 1917 seria o exemplo a ser seguido de uma sociedade socialista igualitária. Para outros, esse cenário não passava do prenúncio do declínio. Os dois lados se confrontavam inconciliavelmente.
Tanto os partidos de direita quanto os de esquerda enviavam seus contingentes às ruas, em combate aberto. A tentativa de iniciar uma nova era após a devastadora Primeira Guerra Mundial não teve definitivamente êxito.
Os soldados que retornavam dos combates da Primeira Guerra Mundial encontravam um caos no qual não conseguiam se orientar. Muitos deles passaram a apoiar os extremistas de direita Freikorps.
No fim do ano, os tumultos haviam chegado a enormes proporções, levando o chanceler do Reich a tomar uma medida. Friedrich Ebert (1871-1925) ordenou que os chamados "tumultos de Natal" fossem reprimidos pelos militares.
No dia 29 de dezembro de 1918, o governo de transição ("Conselho dos Representantes do Povo") desmoronou. A situação escalou. Ebert incumbiu Gustav Noske (1868-1946) de proteger a residência governamental.
Na condição de ministro, ele era responsável pelo comando dos militares. Sua conduta linha-dura não trouxe, contudo, paz para o país, muito pelo contrário: no início de 1919, os tumultos aumentaram ainda mais.
A aliança comunista Spartakusbund conclamou a população a atos que lembravam uma guerra civil, um conflito desencadeado pela demissão do chefe da polícia berlinense Emil Eichhorn (1863 – 1925). Eichhorn era membro do KPD, fundado no início daquele ano, uma facção derivada do Spartakusbund de Liebknecht. A negativa de Eichhorn de renunciar a seu cargo levou à insurreição e causou tumultos em Berlim do dia 8 ao 10 de janeiro de 1919.
O Exército do Reich foi fortalecido pelos extremistas de direita do Freikorps, que perseguiam abertamente os membros do Partido Comunista. Após a derrota da insurreição do Spartakus, os Freikorps levaram adiante operações de "limpeza" na cidade. No contexto destas ações ilegais, foram mortos os dois ícones do KPD: Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Seus corpos foram atirados no Landwehrkanal.
República de Weimar
Em função dos tumultos, o governo transferiu sua sede para a vizinha Weimar. Por outro lado, a escolha desta cidade era também um sinal para a nova república democrática. Em Weimar, haviam vivido e atuado personalidades como Friedrich Schiller (1759-1805), Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) ou Johann Gottfried von Herder (1744-1803). A Nova República não deveria ter nada em comum com o antigo Estado Imperial.
No dia 19 de novembro de 1919, a Assembleia Geral de Weimar se reunia, a fim de elaborar uma Constituição democrática. Após seis meses de intenso debate, a nova Constituição havia sido aprovada no dia 31 de julho, entrando em vigor logo depois.
Naquele momento, a Alemanha passava a ser uma democracia parlamentar, embora a Constituição contivesse muitas falhas. Principalmente o excesso de poderes do presidente do Reich, que, com a ajuda do que se chamava de "prescrição emergencial", podia governar sem e até mesmo contra o Parlamento, acabou se tornando um problema extraordinário.