1909: Lançado o anarquista Manifesto Futurista
"O combate a todos os velhos valores. Por uma nova estética". Esta foi a decisão tomada por um grupo de pintores e escritores italianos depois de uma noite de farra. Uma louca corrida de carro contra o sol nascente selaria o nascimento de uma nova aliança artística. A viagem terminou numa valeta, mas a ideia foi colocada no papel e publicada no jornal Le Figaro, em 11 artigos.
"Declaramos que o esplendor do mundo enriqueceu com uma nova beleza: o deslumbramento da velocidade. Nenhuma obra-prima sem o devido momento de agressividade. Pretendemos destruir os museus e as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas que buscam o proveito."
Radicalismo estético
O futurismo foi um conceito estético radical para todos os setores da vida cultural, criado pelo jornalista e escritor italiano Emilio Filippo Tommaso Marinetti. Ele glorificava as guerras, a agitação da vida moderna, a paixão pelas máquinas, fábricas e velocidade. Os futuristas pregavam a "liberdade para a palavra". Seus representantes abusavam de frases exclamativas, insultos e pretendiam acabar com hábitos culturais considerados retrógrados.
Para os futuristas, os objetos não se esgotavam no contorno aparente e seus aspectos se interpenetravam continuamente – ao mesmo tempo ou vários tempos num só espaço. Procurava-se expressar o movimento real, registrando a velocidade descrita pelas figuras em movimento no espaço.
O futurista não se preocupava em pintar um automóvel, mas captar a forma plástica, a velocidade descrita por ele no espaço. Os objetos eram mostrados de uma forma que normalmente não se podia ver: um rosto, por exemplo, de frente e perfil ao mesmo tempo. Nas artes plásticas, o futurismo foi o ponto de partida de várias orientações, como o cubismo, surrealismo e o construtivismo. As poesias futuristas usavam uma linguagem radical, com economia de palavras. Essa técnica seria reproduzida mais tarde no dadaísmo.
Inspiração para o fascismo
O futurismo encontrou simpatizantes em toda a Europa e em todas as áreas, inclusive na gastronomia. O porta-voz oficial da nova orientação era a revista Poesia, publicada por Marinetti. Mas o que na área cultural parecia uma febre inofensiva dos artistas, foi fatal na política. As ideias dos futuristas, recheadas de idolatria à violência, ao militarismo e ao patriotismo, em parte foram introduzidas em programas fascistas. A guerra chegava a ser vista como uma "higiene do mundo".
Apesar de claramente antifeminista, o futurismo também atraiu mulheres. A escritora Valentine de Saint-Point chegou a publicar um manifesto da mulher futurista, que não ficou atrás do dos homens em termos de agressividade: "O que mais falta às mulheres, assim como aos homens, é a masculinidade. E para conferir mais masculinidade às nossas raças, fixadas na feminilidade, é preciso confrontá-las com a brutalidade. É preciso impor um novo dogma da energia aos homens e mulheres, para que a civilização finalmente atinja um nível mais alto."
Nos campos de batalha da Primeira e Segunda Guerra Mundial, muitos futuristas foram confrontados com o alcance de suas palavras. Foram obrigados a lutar, ficaram feridos, perderam a vida. Ainda aos 65 anos, Enrico Marinetti lutou às portas de Stalingrado. Gravemente doente, retornou para casa, onde morreu a 2 de dezembro de 1944. E justamente aqueles que Marinetti inspirara com sua nova estética criaram outro nome para o futurismo: "arte degenerada".
No Brasil, modernistas influenciados pela corrente futurista negavam o posicionamento favorável às guerras. Chamado de "poeta futurista" em artigo de Oswald de Andrade, Mário de Andrade admitiu "pontos de contato com o futurismo", mas negou o título, temendo ser considerado fascista. (Catrin Möderler/rw)
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