1905: Estreia de "A Viúva Alegre" em Viena
Publicado 30 de dezembro de 2015Última atualização 30 de dezembro de 2021O governo de Pontevedrino teme que a viúva alegre gaste sua fortuna em Paris ou caia nas mãos de um usurpador, o que provocaria a falência do principado. Para que o dinheiro permaneça no país, é preciso que um pontevedriano seduza e se case com a viúva. Trata-se da tarefa perfeita para o charmoso conde Danilo, que conhece todos os truques para conquistar as mulheres.
Ao fim da estreia, a 30 de dezembro de 1905, a opereta – que termina com a promessa de casamento da viúva alegre – recebeu um aplauso apenas moderado. Segundo o maestro da Musikalische Komödie de Leipzig, Roland Seyfarth, foi o que hoje se chamaria de fiasco.
Depois da fracassada estreia, o diretor do teatro distribuiu ingressos gratuitos. A consequência foi que o teatro lotou e a peça virou um sucesso. Os ingressos para todas as apresentações seguintes se esgotaram.
Logo espalharam-se os rumores de que o texto de Viktor Leon e Leo Stein parodiava a política dos Bálcãs. Pontevedrino, na realidade, se chamaria Montenegro, onde, no início do século 20, teria existido um príncipe herdeiro dado à boa vida.
Danúbio cinzento
A música foi composta por Franz Lehár (1870–1948), filho de um maestro de banda militar. Lehár foi um compositor inspirado, que atuou como mestre em várias bandas imperiais.
Além de operetas, também compôs músicas dramáticas, como mostram trechos de Tatjana (versão revista da sua primeira ópera Kukuschka, de 1896), bem como a curiosa Febre, de 1915, um poema tonal para tenor e orquestra, inspirado na experiência trágica do seu irmão, morto na Primeira Guerra Mundial. Até mesmo à valsa do Danúbio Lehár deu um título amargo: An der grauen Donau ("No Danúbio Cinzento").
Franz Lehár já era, portanto, um compositor conhecido. Mas foram as operetas – sobretudo A Viúva Alegre e O País do Sorriso, de 1929 – que lhe deram fama mundial. Segundo Roland Seyfarth, com A Viúva Alegre, Lehár descobriu um estilo próprio e inconfundível de composição, marcado por fortes contrastes. Oscila do sentimentalismo popular ao embalo mundano de animadas valsas e ousadas marchas.
Protegido de Hitler
Para a sua desgraça, A Viúva Alegre também agradou a um contemporâneo seu: Adolf Hitler. Ao lado de Richard Wagner, Lehár era um dos compositores prediletos de Hitler, o que arranharia a sua reputação no pós-guerra. Curiosamente, para o líder nazista, A Viúva Alegre era o máximo, apesar de Lehár ser casado com uma judia.
Lehár não se separou da mulher e, ao contrário de outros artistas, pôde continuar compondo sob o regime nazista. Em decorrência disso, foi acusado por colegas de ter colaborado com Hitler e Goebbels. Ele morreu em 1948, deixando um legado de mais de 30 operetas. Foi um dos maiores compositores do gênero, superado apenas por Johann Strauss.
"Viúva" nas telas
No teatro e no cinema, A Viúva Alegre sempre retorna. Foi tema de pelo menos três filmes conhecidos, a começar pela versão fetichista e sadista de Erich von Stroheim, de 1925, na qual a protagonista enviúva porque o marido, barão Sadoja, morre na noite de núpcias.
Uma produção mais ousada é A Viúva Alegre de Ernst Lubitsch (1943), uma delirante fantasia, com Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier nos papéis principais. Já na versão de Curtis Bernhardt (1952), a protagonista assume um nome (Chyztal) e uma pose mais apropriados para um seriado barato de tevê do que a comédia O Ataché da Embaixada, de Henri Meilhac, que serviu de inspiração à encenação da opereta.
A viúva da peça já recebeu nomes como Gospodina, Hanna, Sônia e Missia, entre outros. A sua pátria é um lugar escondido no centro da Europa: às vezes, Pontevedrino é Montenegro, outras vezes, Marsóvia ou Monteblanco. Até mesmo quanto à terra natal do compositor há uma certa confusão. Considerado por muitos um vienense, Lehár nasceu em Komarn, então Hungria e hoje parte da Eslováquia.