1776: "Empréstimo" de mercenários alemães à coroa britânica
"Confesso que não consigo pensar na atual guerra na América sem ser incomodado pela lembrança da ganância de alguns nobres alemães, que sacrificam tropas alemãs por uma causa que nem lhes diz respeito. Tomo a liberdade de destacar que, se fosse o caso das tropas alugadas ao Reino Unido terem que passar pelo meu território, não deixaria..."
Estas foram as palavras do rei prussiano Frederico, o Grande, em carta a seu sobrinho, marquês de Ansbach-Bayreuth. Com a palavra "ganância" referia-se ao landgrave de Hessen-Kassel que, como ele, também se chamava Frederico 2º.
No dia 15 de janeiro de 1776, este selou um acordo com o rei inglês George 3º, concedendo 17 mil mercenários à coroa britânica para reprimir a rebelião nas colônias americanas. Os homens com mais de 18 anos foram recrutados à força e levados para Kassel. De lá, seguiam para Karlshafen, onde apanhavam um navio a Bremen e continuavam viagem a Nova York. "Ab nach Kassel" (Embora pra Kassel!) era um chavão na época.
Uma forte crítica à venda de soldados alemães foi feita por Friedrich Schiller, no drama Intriga e Amor, de 1783. Muitos outros foram contra a falta de moral deste tipo de "empréstimo de escravos", que só serviu ao enriquecimento do landgrave (título de nobreza que existiu até 1806, e correspondia a conde ou príncipe alemão de certa jurisdição territorial).
Como a pequena e pobre região de Hessen dispunha de um grande contingente militar, soldados havia o suficiente. O dinheiro recebido foi usado para embelezar a cidade de Kassel e construir suntuosas residências. A riqueza atraiu investidores, como o Banco Rothschild, que deve sua ascensão mundial aos famosos táleres deste episódio.
Os próprios ingleses não estavam convencidos da eficiência dos soldados alemães na América distante. Apesar disso, 12 mil deles ficaram no Novo Mundo, mesmo depois do final do conflito.
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