África: Aumenta a insatisfação com as democracias
29 de outubro de 2021Menos de quatro em cada dez cidadãos africanos estão satisfeitos com o funcionamento da democracia nos seus países, uma média que está a piorar e que marca uma "tendência preocupante", declarou, esta quinta-feira (28.10), o diretor da rede de sondagens Afrobarometer.
Joseph Asunka, CEO da Afrobarometer, nota que o nível de satisfação com as democracias africanas tem descido de ano para ano e marca uma "tendência preocupante, que dá a sensação de estarmos sentados numa bomba-relógio".
Segundo o mais recente estudo da Afrobarometer, 34 países africanos têm uma média de apenas 37% cidadãos satisfeitos com a democracia nos seus países.
As conclusões referem-se a um inquérito realizado em 34 países africanos, incluindo os países de língua portuguesa Angola, Cabo Verde e Moçambique, com entre 1.200 a 2.400 participantes em cada país.
Apenas 17% dos participantes em Angola se consideraram satisfeitos com o funcionamento do regime democrático nacional. Em Cabo Verde, a satisfação foi expressa por 23% dos inquiridos, enquanto em Moçambique, 42% se deram como satisfeitos pela democracia nacional.
No topo da lista, os países com maior satisfação foram Tanzânia (80%), Marrocos (70%) e Gana (66%).
Algumas das razões apontadas para a crescente insatisfação foram o facto de a população do continente ser jovem, deparada com uma "crescente frustração" e situações de desemprego que não estão a ser resolvidas atempadamente pelos governos.
O inquérito concluiu também que a população africana apresenta um apoio "muito robusto" à democracia como melhor forma de governação e uma categórica rejeição por governos autoritários. Pelo menos sete em cada dez cidadãos africanos prefere a democracia a qualquer outra forma de governação.
Angola: democracia vs outra forma de governação
No entanto, e neste ponto, é Angola o país com menos apoio à democracia, seguindo-se a África do Sul. Apenas 37% dos angolanos defendem a democracia contra outros regimes de governação.
"Conduzimos pela primeira vez este inquérito em Angola e vimos que não é uma maioria que expressa apoio à democracia. Angola está no fim da lista, assim como África do Sul", disse Joseph Asunka.
Para o responsável, o fraco resultado no caso de Angola "tem a ver com incerteza e relutância da parte das pessoas em responder" ao novo inquérito.
O caso da África do Sul, no penúltimo lugar, porém, "é muito preocupante", porque se trata de um país onde a população já está acostumada às sondagens, sendo um dos 12 países onde o Afrobarometer foi iniciado em 1999.
"Há 10 anos, na África do Sul, 70% dos inquiridos apoiavam a democracia, um número que caiu para 40%. É muito preocupante para todos nós", declarou o especialista em política africana.
O inquérito foi conduzido em 34 países, de forma presencial, com entre 1.200 a 2.400 participantes em cada país, escolhidos aleatoriamente, mas com representação proporcional de cada grupo populacional.