África do Sul: Presidente tenta conter protestos violentos
20 de abril de 2018É uma prova de fogo para o Presidente Cyril Ramaphosa: Mahikeng, na província do Noroeste, foi palco esta quinta e sexta-feira (20.04) dos protestos mais violentos no país desde que Ramaphosa assumiu a Presidência, em fevereiro.
O chefe de Estado interrompeu uma deslocação ao Reino Unido, onde participava na Cimeira da Commonwealth, para tentar acalmar a população, que exige melhores condições de vida e eficácia dos serviços públicos. A falta de casas, serviços de saúde e empregos tornaram a província de Noroeste num foco de instabilidade. Agora, a frustração deu lugar a protestos violentos na capital provincial, com cerca de 300 mil habitantes.
Segundo a imprensa local, tudo terá começado na quarta-feira, com a morte de duas pessoas que não puderam receber assistência médica numa clínica devido a uma greve. Esta quinta e sexta-feira, centros comerciais, armazéns, lojas e edifícios do Governo foram pilhados e viaturas foram incendiadas. Os manifestantes bloquearam várias estradas, impedindo o acesso de residentes, polícia e meios de comunicação a algumas áreas.
Polícia confirma detenções
Pelo menos 23 pessoas foram detidas pela polícia, segundo as agências de notícias. Em entrevista à emissora sul-africana SABC, Adel Myburgh, porta-voz da polícia, confirma apenas a detenção, durante a noite, de "oito suspeitos de violência pública".
"Pelo menos um camião foi incendiado. Também durante a noite, lojas foram pilhadas pelos manifestantes", acrescenta Myburgh.
De acordo com uma estação de televisão sul-africana, uma pessoa foi morta pela polícia durante os confrontos, mas as autoridades não confirmam a informação.
Esta sexta-feira, as forças de segurança dispararam balas de borracha e gás lacrimogéneo contra os manifestantes.
De Londres para reuniões em Mahikeng
O chefe de Estado, que participava na Cimeira da Commonwealth, em Londres, regressou ao país mais cedo do que era previsto para acompanhar a situação em Mahikeng. À chegada, Cyril Ramaphosa encontrou-se de imediato com as autoridades locais.
Ainda antes de chegar ao país, deixou alguns recados: "O Presidente apelou à calma e pede aos manifestantes que contestem de forma pacífica. Ao mesmo tempo, o Presidente pede às autoridades que ajam com a máxima contenção para restaurar a ordem", disse Khusela Diko, porta-voz da Presidência.
Os manifestantes exigem melhores condições e vida e eficácia dos serviços públicos. Pedem igualmente a demissão do primeiro-ministro da província do Noroeste, Supra Mahumapelo, membro do Congresso Nacional Africano (ANC, partido no poder), que acusam de corrupção.
A população responsabiliza o dirigente pela má gestão que levou ao declínio dos serviços públicos. Mahumapelo nega as acusações e pede diálogo: "Qualquer problema que tenham, por mais difícil que seja, apresentem-no da forma correcta. Seja do município, da província ou do bairro, podem eleger um representante ou uma equipa de representantes que podem abordar o Governo sobre estes problemas e podemos resolvê-los".
Recuperar a economia
Além do Presidente sul-africano, também o ministro da Polícia, Bheki Cele, visitou esta sexta-feira a cidade de Mahikeng, onde ouviu os protestos dos cidadãos pela falta de eletricidade, más condições das estradas, bem como pela violência exercida pelas autoridades contra os manifestantes nos últimos dias.
Escolas, estabelecimentos comerciais e serviços públicos estiveram fechados em toda a província do Noroeste, esta sexta-feira. A fronteira com o vizinho Botsuana foi fechada devido à violência.
As próximas eleições na África do Sul estão marcadas para 2019, sendo que o ANC, partido no poder, liderado atualmente por Ramaphosa, que sucedeu a Jacob Zuma, tenta recuperar dos piores resultados de sempre registados em 2016.
O partido enfrenta também divisões internas depois da atribulada demissão do antigo Presidente Jacob Zuma, em fevereiro, depois de vários escândalos e acusações de corrupção.
Recupear a economia sul-africana e combater a corrupção têm sido prioridades de Cyril Ramaphosa. O desemprego está nos 28%, um nível recorde na África do Sul, e chega aos 50% entre os jovens em muitas áreas do país.