Violência xenófoba atinge camionistas na África do Sul
25 de novembro de 2020O Presidente da República sul-africano, Cyril Ramaphosa, condenou esta quarta-feira (25.11) a violência xenófoba dirigida contra camionistas imigrantes, que já causou um morto e destruiu pelo menos 32 camiões nos últimos dias.
"Como sul-africanos, não podemos tolerar a ilegalidade sangrenta e estúpida com que a indústria de transportes rodoviários está a ser alvo", lê-se num comunicado divulgado na página oficial da internet da Presidência da República. "Não podemos tolerar esta perda de vidas e a destruição de propriedade", adianta o chefe de Estado.
A Presidência da República sul-africana sublinha que Ramaphosa "também está profundamente preocupado" com o impacto da recente onda de violência e vandalismo nas empresas de transporte rodoviário afetadas, bem como com a rutura económica causada por recentes atos, "justamente quando o país está focado na reconstrução da economia".
Destruição e ameaças
As autoridades sul-africanas encerraram esta quarta-feira (25.11) a autoestrada N12, no leste de Joanesburgo, e que serve de principal rota de ligação com Moçambique, onde dois camiões de Transporte Internacional Rodoviário (TIR) foram incendiados na manhã desta quarta-feira (25.11)
O incidente é o mais recente na onda de protestos levada a cabo em todo o país por membros do All Truck Drivers Foundation (ATDF) e da National Truck Drivers Federation (NTDF), que exigem o fim da contratação de camionistas estrangeiros por empresas sul-africanas.
Um camionista de nacionalidade sul-africana, de 45 anos, foi morto a tiro na noite de segunda-feira (23.11) e pelo menos 32 camiões TIR foram incendiados nas principais autoestradas do país nos últimos dias, em resultado da recente onda de violência e vandalismo no país.
O ATDF, que nega o envolvimento dos seus membros nos incidentes de violência, ameaça impedir as empresas de operarem se os camionistas estrangeiros não se demitirem até 1 de dezembro, segundo a imprensa local.
A organização regional SADC Crossborder Drivers Association, anunciou por seu lado a intenção de proibir a circulação "de todos os camiões registados na África do Sul fora das fronteiras do país".
"Acreditamos que o governo do ANC [Congresso Nacional Africano, no poder na África do Sul] tem uma mão nos ataques, uma vez que só pode prender estrangeiros indocumentados, mas assassinos, incendiários, violadores e terroristas estão em liberdade", adiantou o porta-voz Tadenda Mehlomakhulu, citado pelo jornal Mercury, em Durban.
Economia regional em risco
O economista sul-africano Mike Schussler considera que a atual onda de violência e vandalismo que afeta o setor tem tendência a "destruir" a economia regional da África Austral, sublinhado a dependência da África do Sul do transporte rodoviário de transitários, onde operam várias empresas portuguesas e moçambicanas.
"Se os sul-africanos lincharem os camionistas estrangeiros, haverá consequências para os motoristas locais nos outros países africanos", refere o economista citado pelo jornal sul-africano.
Com uma taxa recorde de desemprego de 43,1%, agravado pela crise do novo coronavírus no terceiro trimestre deste ano, a economia mais industrializada de África, que está em recessão desde o ano passado, debate-se também com problemas estruturais, corrupção galopante na administração pública e elevados níveis de criminalidade, com 652.726 crimes reportados entre julho e setembro, um acréscimo de 33.9%, segundo a polícia sul-africana.