África do Sul culpa a NATO pela guerra da Ucrânia
17 de março de 2022O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse esta quinta-feira (17.03) que a guerra "poderia ter sido evitada se a NATO tivesse considerado advertências feitas internamente de que a "expansão" no leste europeu conduziria "ao aumento da instabilidade na região".
Ramaphosa fez a afirmação numa sessão parlamentar em que justificou a posição do seu Governo em defender o "diálogo" e sem condenar a invasão da Ucrânia. A África do Sul mantém relações estreitas com Moscovo e é aliada da Rússia no bloco das potências emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) - em defender o "diálogo" e sem condenar a invasão da Ucrânia.
"A África do Sul está pronta a apoiar genuínos esforços multilaterais para acabar com o conflito e alcançar uma paz duradoura na região", afirmou o Presidente sul-africano, apesar de a sua posição equidistante na crise lhe ter valido duras críticas no país.
África do Sul condena violência e violação do Direito Internacional
Apesar de indicar que a África do Sul não tolera nenhum ato de violência ou justifica a violação do Direito Internacional, Ramaphosa argumentou que "obviamente" a Rússia sentiu uma "ameaça existencial" que desembocou em operações militares contra a Ucrânia e defendeu que o Governo sul-africano defendeu o "diálogo" em vez de posições de "condenação".
O Presidente sul-africano repetiu que, na conversa que manteve há uma semana com Vladimir Putin, o Presidente russo lhe garantiu que as negociações estavam a avançar e expressou o desejo de falar também em algum momento com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Cyril Ramaphosa critica o trabalho da ONU
Por outro lado, Ramaphosa considerou que a guerra na Ucrânia está a revelar as grandes "fraquezas" da arquitetura da Organização das Nações Unidas, designadamente do Conselho de Segurança, na hora de lidar com conflitos, uma vez que já não reflete a "realidade" global.
Ramaphosa criticou ainda as principais potências por terem a "tendência" de usar o estatuto de membros permanentes (do Conselho de Segurança) para servir interesses nacionais em vez da "estabilidade global", e reclamou mais protagonismo para África.
"Que um continente de 1,3 biliões de pessoas não tenha uma voz significativa no Conselho de Segurança da ONU é algo de grande preocupação para os cidadãos deste continente", enfatizou.
No dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da África do Sul pediu, em comunicado, a retirada imediata das tropas, embora sem condenar explicitamente a operação, mas nas semanas seguintes Pretória suavizou a sua posição.
Apesar das duras críticas da opinião pública sul-africana e da imprensa local, no início de março, o Governo de Ramaphosa absteve-se na votação que a ONU realizou para condenar a invasão russa.
De acordo com os dados da ONU, já pelo menos 4,8 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia, desde a invasão da Rússia a 24 de Fevereiro. Esta é considerada a pior crise de refugiados da Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).