Zâmbia despede-se de Kenneth Kaunda
2 de julho de 2021"Como nação, estamos em dívida para com KK [sigla do seu nome e por que era popularmente conhecido] por tudo o que fez por este país e por toda a região da África Austral e o resto de África", afirmou o atual chefe de Estado zambiano, Edgar Lungu, na cerimónia que decorreu no estádio da capital, Lusaca, com capacidade limitada devido à Covid-19.
"Ele esteve ao nosso lado durante a longa e amarga luta contra o brutal regime racista do 'apartheid' (...) e nunca vacilou no seu apoio ao povo da África do Sul e da região", recordou o chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, na sua intervenção, citado pela agência noticiosa Efe.
O funeral de Estado, onde esteve presente o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, foi acompanhado por várias atuações musicais.
Muitos presentes acenaram com lenços brancos para homenagear Kaunda, que era conhecido por carregar um na sua mão direita.
"Devoto da independência"
Filipe Nyusi lembrou o antigo Presidente da Zâmbia como um "devoto" defensor da independência dos povos africanos.
"O Presidente Kaunda devotou a sua vida para a libertação da África e, por isso, se ofereceu como anfitrião para que Portugal e a Frente de Libertação de Moçambique [Frelimo] assinassem os acordos que conduziram à proclamação da independência de Moçambique e à vitória do povo moçambicano", declarou Filipe Nyusi.
Além de Nyusi e Ramaphosa, estiveram presentes na cerimónia os presidentes de Gana, Quénia, Zimbabué, Botsuana, Namíbia e Malawi, assim como o vice-presidente de Angola, o primeiro-ministro do Lesoto e o antigo chefe de Estado tanzaniano Jakaya Kikwete.
O enterro de Kenneth Kaunda está previsto para o dia 07 de julho.
"O Gandhi africano"
Também apelidado de "o Gandhi africano" pelo seu ativismo não violento, Kenneth Kaunda conduziu a antiga Rodésia do Norte à independência sem derramamento de sangue em outubro de 1964. Socialista que esteve próximo de Moscovo, governou o país durante 27 anos.
Após violentos tumultos, aceitou eleições livres em 1991 e foi derrotado.
Enquanto no poder, apoiou muitos movimentos que lutavam pela independência ou contra o domínio da minoria branca noutros países da região, incluindo o Congresso Nacional Africano (ANC) na África do Sul.
Desde a sua reforma em 2000, esteve envolvido na resolução de crises no continente africano no Quénia, Zimbabué, Togo e Burundi, bem como na luta contra a sida, depois de ter anunciado publicamente que um dos seus filhos tinha morrido da doença.
A sua saúde agravou-se após a morte, em setembro de 2012, da sua mulher, com quem teve nove filhos.