Zimbabué prepara-se para primeiras presidenciais após Mugabe
28 de julho de 2018O Zimbabué prepara-se para as eleições gerais de segunda-feira (30.07). 5.6 milhões eleitores registados no país vão escolher o seu próximo líder: Emmerson Mnangagwa e Nelson Chamisa são os favoritos. Os dois candidatos apelaram este sábado ao voto pela última vez antes das eleições, em dois comícios separados na capital, Harare.
Durante o regime do ex-líder Robert Mugabe, as campanhas eleitorais no Zimbabué eram caracterizadas por violência e mortes, mas isso mudou.
"A prevalência de violência é muito menor agora, comparada com eleições anteriores. A justificação óbvia é que o Presidente Emmerson Mnangagwa tem proclamado a paz e, como resultado, os partidos políticos cumprem. Há compromisso, há vontade política para que não haja violência", comenta a porta-voz da polícia, Charity Charambe.
Os principais rivais, o Presidente Emmerson Mnangagwa e líder da ZANU-PF, e Nelson Chamisa, candidato do Movimento pela Mudança Democrática (MDC), têm evitado ataques pessoais, algo habitual entre os seus antecessores no passado. Ambos dizem estar confiantes que vão conseguir ser eleitos para o mais alto cargo no Zimbabué.
Num evento de campanha recente Mnangagwa disse já pensar no local para festejar.
"Vamos ganhar estas eleições pelas urnas. Sem dúvida que vamos ganhar. Vai ser uma vitória estrondosa", disse o atual Presidente.
Por sua vez, o líder da oposição também garantiu uma vitória certa e diz ter a vontade do povo do seu lado.
"As pessoas querem que nós derrotemos a ditadura, que derrotemos a pobreza, que derrotemos a tirania, que derrotemos o seu desespero. Vocês têm de saber que a nossa vitória é certa!", declarou Nelson Chamisa.
Oposição questiona comissão eleitoral
Apesar de um ambiente político mais tranquilo, a oposição vai a votos com um conjunto de queixas contra a Comissão Eleitoral do Zimbabué, que acusam de manipulação em prol do partido no poder, a ZANU-PF, como era habitual durante o regime de Robert Mugabe.
Alexander Rusero, professor de jornalismo e políticas internacionais no Instituto Politécnico de Harare, diz que esta hostilidade da oposição com a organização eleitoral não é saudável para a credibilidade o pleito.
"Tem de haver uma ideia positiva da comissão eleitoral do Zimbabué aos olhos da população, mas quando há uma oposição sempre a atirar críticas a esta comissão e a comissão a ter uma postura defensiva, não é saudável. O ambiente eleitoral não precisa de estar tenso e se não é bem gerido, pode levar a resultados indesejáveis", explicou Rusero.
Mnangagwa procura legitimidade política
Para o professor universitário, esta eleição é tão importante para Mnangagwa como para a oposição. Mnangagwa é o substituto interino de Robert Mugabe, que foi afastado do poder em novembro do ano passado por forças militares. Para Mnangagwa, as eleições serão uma forma de legitimação perante o próprio partido e o povo.
"O que aconteceu depois da saída do Mugabe, é que temos um Governo com uma legitimidade questionável. Emmerson Mnangagwa está num estado de desespero por legitimidade, dentro e fora do partido. Precisa de apoio, para poder dizer que, pelo menos, está a governar pelo interesse do povo, com o consentimento do eleitorado", disse Rusero.
Economia é o maior desafio
A população do Zimbabué pede, particularmente, a recuperação económica do país e os dois candidatos presidenciais dizem que estão prontos para tirar o Zimbabué da recessão económica. A taxa de desemprego no país é muito elevada: 85%, dizem analistas.
Já em Epworth, a cerca de 50 quilómetros de Harare, Josephine Mari está confiante que Chamisa vai vencer, uma vez que não houve melhorias desde que Mnangagwa subiu ao poder.
"São iguais, Mnangagwa e Mugabe. Mas não vou votar porque sou considerada estrangeira, uma vez que os meus pais vieram do Malawi" .
Josephine Mati espera por dias melhores.
"Costumava comprar coisas da África do Sul e de Moçambique para revenda, mas não tenho mais dinheiro. Se chegar à capital, conseguirei desenrascar-me porque consigo pensar. Tenho quatro filhos. Gostava que os bancos tivessem créditos especiais para nós, viúvas. Assim, teria uma quinta ou podia criar porcos, porque já fiz isso", conta.
Por sua vez, Helen Katandika, de 73 anos, que vive na zona rural de Arcturus, a cerca de uma hora de carro de Harare, vai votar em Mnangagwa, em quem vê "um pai". Katandika reconhece que este processo foi mais pacífico e reconhece os esforços do partido no poder.
"Apoio a ZANU-PF porque me deu esta terra. Eu estava a viver em Harare mas o ZANU PF disse que agora temos esta terra e podíamos fazer o que quiséssemos. Estamos a usar a terra para plantar milho. Estamos bem. Foi-me dado um lote grande, nem consigo usar tudo porque não tenho dinheiro para isso mas é um terreno muito fértil", diz.
Espera-se que os resultados finais sejam conhecidos, no máximo, no próximo sábado. Dependendo de que lado se está, as sondagens preveem ou uma vitória esmagadora para o partido no poder ou um empate, levando Mnangagwa e Chamisa a uma segunda volta em setembro.