XIII Congresso da UNITA: Onde estão as mulheres?
11 de novembro de 2019O novo líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) vai ser eleito no XIII Congresso ordinário do partido do "Galo Negro", que se realiza entre 13 e 15 de novembro, em Luanda. Na corrida à sucessão de Isaías Samakuva, há 16 anos na liderança do maior partido da oposição angolana, estão cinco candidatos - Adalberto Costa Júnior, José Pedro Katchiungo, Alcides Sakala, Abílio Kamalata Numa e Raul Danda - e a falta de candidaturas no feminino não passou despercebida nas redes sociais, onde se debate, por estes dias, o papel da mulher angolana na política.
A conhecida jornalista Maria Luísa Rogério, por exemplo, escreveu na sua página do Facebook que "gostaria de ver uma mulher a disputar a liderança da UNITA". Laurinda Gouveia, do movimento "Ondjango Feminista", concorda: "Eu gostaria de ver mulheres a concorrerem. Mulheres que, de alguma forma, levem a agenda das mulheres até às instâncias superiores. Eu gostaria de ver isso", diz a ativista angolana, em entrevista à DW África.
Não é por falta de competências que não há candidaturas femininas à liderança da UNITA, considera o politólogo angolano Agostinho Sicatu. "Não faltam mulheres com capacidade, também não faltaram incentivos às mulheres", afirma. "Acredito que as mulheres devem estar a fazer também o cálculo das suas agendas, porque não se vai a um pleito eleitoral apenas por ir, para ir fazer a representação da quota, mas ir ao pleito e vencer o congresso".
À conquista da política
Há passos tímidos das mulheres na ocupação de alguns cargos de destaque nos partidos políticos angolanos. No MPLA, por exemplo, pela primeira vez, uma mulher chegou a vice-presidente do partido. Trata-se de Luísa Damião, antiga diretora da agência de noticias angolana, Angop.
Na história da política angolana destaca-se ainda a liderança de Anália de Vitória Pereira no Partido Liberal Democrático (PLD). "Mamã Coragem", como era conhecida, conseguiu a representação parlamentar nas primeiras eleições de uma Angola democrática, realizadas em setembro de 1992.
Será que a mulher angolana já conquistou o seu espaço na política? Laurinda Gouveia não tem dúvidas: "Tenho a plena certeza de que a mulher angolana precisa de ampliar os seus espaços. Tanto na política, como na vida social e económica. E ser dignificada por aquilo que ela faz".
Nas instituições do Estado, a fasquia feminina também tem estado a aumentar. No Conselho da República, Rosa Cruz e Silva tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo. No Executivo, há muitas pastas lideradas por mulheres, como é o caso dos ministérios das Finanças, da Saúde, da Cultura, da Juventude e Desportos, da Educação, do Ensino Superior, Ministério do Estado para o setor social, entre outros. No Parlamento, a quota também tende a aumentar.
Porém, é preciso haver mais mulheres em lugares de decisão, diz Laurinda Gouveia: "No aparelho do Estado, temos muitas mulheres e isso agrada-me, de alguma forma agrada-me. Mas não é o suficiente".
Ainda assim, alerta o politólogo Agostinho Sicatu, o caminho para uma maior presença feminina na política e outros setores da sociedade angolana deve ser igualitário. "Eu sou daqueles que defendem que as mulheres não devem ir para os cargos porque são mulheres", sublinha. "As mulheres devem ir para os cargos porque obedecem a critérios de igualdade, obedecem a critérios de competência, e assim é que se faz país".