Xenofobia terá motivado morte de taxista moçambicano na África do Sul
7 de março de 2013Em declarações à imprensa, José Nascimento sustentou que o facto de os agentes da polícia sul-africana terem algemado o taxista na parte traseira de uma viatura policial, arrastando-o de seguida pela estrada alcatroada numa distância de cerca de 400 metros, é, por si só, “uma tendência de xenofobia”.
Esta é a segunda morte de um estrangeiro nas mãos da polícia sul-africana em menos de dois meses. Um cidadão nigeriano também foi morto pela polícia na Cidade do Cabo no mês passado.
Desde 2008, foram assassinados no país vizinho pela polícia local 289 moçambicanos, de acordo com a edição de 03.03 do jornal sul-africano Sunday Tribune, que cita estatísticas das autoridades locais.
Moçambicanos criticam actuação da polícia
A notícia do taxista moçambicano provocou uma onda de choque e condenação. “A atuação da polícia sul-africana foi bárbara, cruel”, disse à DW África um cidadão moçambicano residente na África do Sul, queixando-se também do tratamento de que são alvo muitos moçambicanos na fronteira. “Perdemos mais um irmão nas mãos da polícia sul-africana”, comentou outro cidadão de Moçambique que vive no país vizinho.
“Têm vindo a falar da implementação de mecanismos para prevenir casos de tortura, não só pelo caso da semana passada, mas se o governo sul-africano não tomar medidas claras para prevenir este tipo de abusos, situações idênticas irão continuar a acontecer”, afirmou um cidadão sul-africano.
Segundo o académico António Gaspar, “a polícia em princípio sabe que há limites para o uso da força contra um cidadão". Lembra também que todo indivíduo, mesmo que tenha infringido a lei, tem o direito de ser ouvido “e nunca espancado até à morte”. O académico moçambicano considera ainda que “os sul-africanos ainda vão perceber que a violência não é a solução.”
Jovem taxista homenageado
O Estádio Municipal de Daveyton, a norte de Joanesburgo, acolheu nesta quarta-feira (06.03) uma cerimónia de homenagem ao motorista, organizada pelo Congresso Nacional Africano (ANC), o partido governamental. Segundo o embaixador de Moçambique na África do Sul, Fernando Fazenda, participaram no ato de despedida membros do ANC e outras autoridades. Estiveram também presentes muitos emigrantes moçambicanos que se encontram naquele país.
O corpo de Mido Macia, morto em consequência de ferimentos após ter sido torturado, será trasladado para Moçambique nesta sexta-feira (08.03), assegurou o embaixador moçambicano.
Para o próximo sábado (09.03), a Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH) agendou uma marcha pacífica de repúdio pelo assassinato do jovem taxista, que terá lugar na capital moçambicana, Maputo. Será também “uma manifestação pública de solidariedade para com a família enlutada”, exorta a LDH em comunicado.
Mido Macia, de 27 anos, 17 dos quais vividos na África do Sul, deixa um filho de apenas sete anos, além de três sobrinhos, filhos de um irmão também já falecido, dos quais era o guardião legal.
Autor: Milton Maluleque/Madalena Sampaio
Edição: Renate Krieger