Viatura do edil Manuel de Araújo alvejada pela polícia
4 de fevereiro de 2020Na segunda-feira (03.02) a polícia de Quelimane, no centro de Moçambique, lançou gás lacrimogéneo para impedir uma passeata pacífica alusiva ao Dia dos Heróis Moçambicanos. Balas foram disparadas contra a viatura protocolar de Manuel de Araújo, da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Em entrevista à DW África, o edil considera que é mais do que evidente de que a ação das autoridades é uma ameaça. Revela ainda que tem recebido várias mensagens e e-mails com ameaças de morte.
DW África: A passeata foi ilegal, conforme alega a polícia?
Manuel de Araújo (MA): Gostava de entender, da própria polícia, quando é que uma passeata é ilegal. Porque nós saímos da Praça dos Heróis, onde participamos na cerimónia oficial e essa cerimónia oficial teve a direção da secretária de Estado, esteve lá o governador e todas as instituições da cidade. E terminada a cerimónia oficial, saímos da Praça e dirigimo-nos para a sede do partido. É a tal passeata. Agora, eu não sabia que a Constituição da República de Moçambique foi suspensa e que o Estado de Direito democrático foi abolido em Moçambique, que é mais ou menos o que nós temos vindo a viver desde o golpe de Estado eleitoral do dia 15 de outubro. Desde lá para cá, parece que as liberdades fundamentais foram suspensas. A liberdade de reunião, a liberdade de manifestação, a liberdade de opinião estão cada vez mais coartadas e, portanto, as pessoas não se podem reunir, não podem manifestar-se.
DW África: A polícia terá disparado contra a sua viatura protocolar, sendo ainda por cima edil da cidade de Quelimane. Foi um excesso esta atitude?
MA: Tudo o que a polícia fez não só é ilegal como recorreu também ao chamado uso desproporcional de força. Não consigo perceber o que é que a viatura protocolar tinha para ter sido atingida. Foram balas que foram disparadas contra a viatura e, portanto, a pergunta que eu faço é: que infração a viatura terá cometido ou o motorista que estava na viatura? Porque eu próprio estava a caminhar e a polícia entendeu que devia disparar contra a viatura, várias balas, lançou gás lacrimogéneo e várias pessoas foram afetadas pelo gás lacrimogéneo sem necessidade, porque era uma caminhada pacífica.
DW África: Acha que é uma mensagem que se está a passar com esses tiros contra a sua viatura?
MA: Eu não tenho dúvidas que seja uma mensagem. Isso é uma ameaça direta, que tem sido feita. Aliás, tenho recebido várias mensagens e e-mails com ameaças de morte. Várias pessoas têm sido enviadas para transmitir recados no sentido de me manter no meu lugar, porque faço parte de uma lista de pessoas que são ativas na sociedade e que têm os dias contados. Mas não são essas ameaças que nos vão fazer parar e de gozar dos direitos consagrados na Constituição da República. Nós sugerimos, já que o partido FRELIMO tem maioria no Parlamento, que proponha uma emenda à Constituição da República para que voltemos ao sistema monopartidário, porque é isso que está a acontecer.