Moçambique: Venâncio Mondlane denuncia perseguição e ameaças
21 de dezembro de 2024Venâncio Mondlane, candidato presidencial nas eleições de 9 de outubro e figura de destaque na oposição moçambicana, publicou nas redes sociais um texto contundente que descreveu como "O Meu Testamento". A publicação denuncia alegadas perseguições políticas, violência policial e o que Mondlane chama de "terr@rismo de Estado", marcando quase cinco décadas de repressão no país.
Mondlane, que vive atualmente em condições de clandestinidade, acusa as autoridades de o perseguirem com mandados de captura internacionais e bloqueios de bens. "Vivo cruzando fronteiras, em constante e permanente perigo, pairando sobre a minha cabeça um mandado internacional de busca e captura", escreveu. Apesar das perdas pessoais, incluindo o bloqueio das suas economias, o opositor sublinha que tais dificuldades são nulas comparadas com a situação dos moçambicanos que são vítimas de violência estatal.
A publicação destaca casos de vítimas como Augusto Tausene Cumbana Júnior, um rapaz de 13 anos baleado pela Unidade de Intervenção Rápida (UIR), e Fábio, atingido por seis tiros ao tocar panelas na sua casa em Maputo. Mondlane também menciona Celeste, uma mulher grávida com uma bala alojada no corpo, e Reginaldo Félix Macie, de 15 anos, morto durante um funeral.
Mondlane afirmou ainda estar sob pressão de figuras influentes que lhe ofereceram privilégios em troca de silêncio. "Pessoas cuja dimensão e poder é suficiente para me fazer desaparecer com um simples sopro [...] aconselham-me a aceitar, em silêncio, os estragos que serão causados pelos explosivos que sairão da boca da Professora Lúcia no dia 23 de dezembro", disse.
Denúncia de Albano Carige
A denúncia de Mondlane foi reforçada por Albano Carige, Edil da Beira e seu apoiante. Em outra publicação nas redes sociais, Carige revelou a existência de um alegado mandado de morte contra si, apontando um membro da polícia e outras pessoas ligadas ao partido no poder, a FRELIMO, como responsáveis.
Ambos os políticos apelaram à luta pela verdade e liberdade em Moçambique. Mondlane concluiu o seu texto com um grito de resistência: "Este País é nosso. Salve Moçambique!"
As acusações surgem num contexto de tensões crescentes, com relatos de repressão a manifestações populares e denúncias de irregularidades nas eleições recentes. Até ao momento, as autoridades moçambicanas não se pronunciaram sobre as graves alegações.
Pelo menos 130 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, segundo balanço avançado, nesta semana, pela Plataforma Eleitoral Decide, que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique, que aponta ainda 385 pessoas baleadas.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane disse, na segunda-feira (16.12), numa comunicação através da rede social Facebook, que a proclamação dos resultados das eleições gerais pelo Conselho Constitucional (CC), previsivelmente em 23 de dezembro, vai determinar se Moçambique "avança para a paz ou para o caos".
Os resultados das eleições de 09 de outubro anunciados pela Comissão Nacional de Eleições deram a vitória, com 70,67% dos votos, a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no poder, mas precisam ainda de ser validados pelo Conselho Constitucional, última instância de recurso em contenciosos eleitorais.