Vai haver mais "banho" na segunda volta das presidenciais em São Tomé e Príncipe
18 de julho de 2011Dez candidatos apresentaram-se às urnas para concorrer ao Palácio Cor-de-Rosa em São Tomé e Príncipe. Mas apenas dois passaram à segunda volta das presidenciais, no dia 17 de julho de 2011. O analista alemão Gerhard Seibert considera que os candidatos que ficaram para trás na corrida têm ainda uma palavra a dizer.
Conforme se previa, as eleições presidenciais em S. Tomé e Príncipe não ficaram decididas à primeira. Na segunda volta, concorrem Manuel Pinto da Costa, ex-presidente da República, tendo reunido 35,58% dos votos; e Evaristo Carvalho, atual presidente do parlamento são-tomense, que conquistou 21,74% do eleitorado.
Não participam na segunda volta os outros candidatos: no terceiro lugar ficou Delfim Neves com 14,32% dos votos e no quarto lugar Maria das Neves com 14,05%. A seguir: Elsa Pinto com 4,46%, Filinto Costa Alegre com 4,14% e Aurélio Martins com 4,08% dos votos. Os restantes candidatos tiveram menos de 1% de votos: Jorge Coelho obteve 0,65%, Hélder Barros 0,63% e Manuel Deus Lima 0,35%, segundo os resultados definitivos divulgados pela agência LUSA.
Manuel Pinto da Costa e Evaristo de Carvalho na segunda volta
Face aos resultados obtidos, Gerhard Seibert, analista político, considera que para a segunda volta, neste momento, tem "melhor hipótese Manuel Pinto da Costa porque pode, pelo menos, teoricamente, contar com outros votos que nesta primeira volta foram dados a outras candidaturas vindas do MLSTP [Movimento para a Libertação de S. Tomé e Príncipe]". Gerhard Seibert refere-se aos quatro outros candidatos ligados àquela família política: Elsa Pinto, Aurélio Martins, Hélder Barros e Manuel Deus Lima.
Mas o especialista em assuntos são-tomenses não arrisca dar garantias da vantagem à partida de Manuel Pinto da Costa "porque se o outro candidato, Evaristo Carvalho, consegue reunir todos os votos do eleitorado que quer evitar um regresso do antigo Presidente ao poder, é possível" um outro desfecho a 7 de agosto, data da segunda ida às urnas.
Os oito candidatos que ficaram para trás na corrida à presidência são-tomense poderão ter ainda uma palavra a dizer no desfecho do ato eleitoral. O analista do Centro de Estudos Africanos do Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa, em Lisboa, considera que os candidatos Maria das Neves ou Delfim Neves "podem desempenhar algum papel" na segunda volta pois "estes dois candidatos vão fazer uma recomendação aos seus apoiantes" o que "pode também ter alguma influencia", esclarece Seibert.
Recorde-se que Maria das Neves foi a terceira candidata mais votada no dia 17 de julho, com 14,03% dos votos; seguida de Delfim Neves, com 13,89%.
Estabilidade política
Durante a campanha eleitoral, estabilidade política foi das expressões mais ouvidas por parte dos candidatos à Presidência da República. Mas será que as águas agitadas da política são-tomense vão-se acalmar a partir de 7 de agosto?
Gehard Seibert considera que Evaristo de Carvalho apoiado pela Acção Democrática Independente (ADI) é o "preferido pelo governo". Isto porque a ADI foi o partido vencedor das legislativas e é liderado pelo primeiro-ministro Patrice Trovoada.
Mas o entendimento do eleitorado parece ser diferente, uma vez que Manuel Pinto da Costa reuniu mais votos. O candidato concorre como independente, mas mantém-se ligado ao MLSTP. De acordo com Seibert, com Manuel Pinto da Costa como Presidente o "risco de conflitos entre o Presidente da República e o primeiro-ministro seria maior durante estes três anos que restam ao governo para concluir o seu mandato de quatro anos".
Por isso, está por enquanto tudo em aberto em relação à estabilidade política em São Tomé.
Vai haver mais "banho" na segunda volta
O analista político Gerhard Seibert considera que "infelizmente" se vai continuar a verificar na segunda volta o fenómeno do "banho" - nome pelo qual é conhecido a compra de votos por parte dos candidatos ao eleitorado em São Tomé e Príncipe. Isto porque "esta estratégia de ganhar votos já faz parte integrante do processo eleitoral em São Tomé", explica o analista político do Centro de Estudos Africanos do Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa, em Lisboa.
O fenómeno de "candidatos, partidos, [que] começaram a oferecer dinheiro em troca do voto já se tornou um hábito" e atualmente, "são os eleitores, a população que se aproxima dos candidatos, pede dinheiro em troca do voto", remata Seibert.
Autora: Glória Sousa
Edição: António Rocha/Johannes Beck