UA exige diálogo entre Governo e oposição no Burundi
20 de outubro de 2015Subiu de tom o discurso da União Africana em relação à crise pós-eleitoral no Burundi. A organização quer forçar as autoridades burundesas a dialogar com todos os intervenientes na crise. Este fim-de-semana (18.10), o Conselho de Paz e Segurança da União Africana anunciou uma investigação às "violações dos direitos humanos e outros abusos contra civis" no país.
Ponto da situação
Há vários meses que o Burundi é palco de confrontos entre apoiantes e opositores do Presidente Pierre Nkurunziza. A crise foi desencadeada em abril, com o anúncio da candidatura de Nkurunziza a um terceiro mandato. Em julho, o chefe de Estado foi reeleito.
Agora, a União Africana anunciou a imposição de sanções contra personalidades burundesas “cujas acções e palavras contribuem para a persistência da violência” no país. Thierry Vircoulon é investigador do International Crisis Group e diz que as sanções estão lá para pressionar o Governo e levar as autoridades a regressar à mesa de negociações. "Nesta decisão da União Africana está incluído um apelo para que sejam retomadas as negociações fora do Burundi, seja em Addis Abeba ou em Kampala", enfatiza Vircoulon.
Desde o início dos confrontos entre o Governo e a oposição, em abril, mais de 140 pessoas foram mortas no Burundi. De acordo com a ONU, quase todos os dias são encontrados corpos nas ruas de Bujumbura. Nas últimas semanas, os ataques parecem cada vez mais dirigir-se a líderes e figuras proeminentes da oposição. No sábado, a activista política anti-corrupção Charlotte Umugwaneza foi encontrada morta.
O especialista em segurança queniano Semiyu Werunga acredita que a acção da União Africana vai ajudar a quebrar o ciclo de violência: "Se a União Africana decidiu que este é o caminho a seguir, e se realmente garantir que todos os estados-membros vão aplicar as sanções de forma inequívoca, vamos ver muitos resultados", acredita ele.
Plano B
O Conselho de Segurança da União Africana recomenda ainda à organização que comece os preparativos para enviar uma missão militar ao Burundi, caso a violência se agrave. Esta não é a primeira vez que a União Africana considera publicamente esta hipótese. Mas, até agora, a possibilidade esteve fora de questão: "No momento, a violência no Burundi é de baixa intensidade. E não é, de todo, um conflito à escala de uma guerra civil".
A União Africana decidiu também aumentar o número de observadores dos direitos humanos e especialistas militares no Burundi. No total, um grupo de 100 pessoas vai investigar quem são os responsáveis pela violência no país.
De acordo com Thierry Vircoulon, o trabalho destes observadores tem estado bloqueado no Burundi, e esta é uma das razões que levaram a União Africana a endurecer a sua posição, adoptando sanções: "Nos últimos meses, a União Africana tem levantado bastante a voz quanto à crise no Burundi. Acho que esta decisão é o resultado lógico de uma crescente frustração com o Governo do Burundi", esclarece o investigador.
A situação política e militar burundesa deverá estar em debate também esta terça-feira, em Angola, durante a reunião de ministros da Defesa da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos. A crise no Burundi, juntamente com os conflitos na República Centro-Africana, Sudão do Sul e República Democrática do Congo tem marcado a presidência angolana da organização.