UNITA faz 50 anos desconfiada da saída de Eduardo dos Santos
11 de março de 2016A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) diz que "é preciso ver para crer" se ocorrerá, de facto, a saída de José Eduardo dos Santos da vida política. O anúncio foi feito esta sexta-feira (11.03), em Luanda, pelo líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e Presidente de Angola há 36 anos:
A notícia surge um dia antes das jornadas comemorativas organizadas pelo principal partido da oposição em Luanda, sob o lema "UNITA 50 anos por Angola e pelos Angolanos". A UNITA foi fundada por Jonas Savimbi e António da Costa Fernandes a 13 de março de 1966, em Muangai, na província do Moxico, durante o regime colonial português.
O vice-presidente da UNITA, Raúl Danda, diz que o anúncio "não aquece nem arrefece" o partido do galo negro e duvida que o Presidente angolano tenha dito a verdade. Em entrevista à DW África, o deputado garante que o partido está pronto para as eleições de 2017. E se chegar ao poder, vai poder concretizar uma aspiração com 50 anos: a existência de "uma Angola democrática, onde toda a gente possa ter oportunidades iguais".
DW África: José Eduardo dos Santos acaba de anunciar que vai deixar a vida política em 2018. Na véspera do aniversário dos 50 anos de fundação da UNITA, esta é uma boa notícia para o principal partido da oposição angolana?
Raúl Danda (RD): Esta notícia não é boa nem é má para a UNITA. Primeiro, porque nós não temos motivos nenhuns para acreditar que o Presidente da República tenha dito a verdade. Antes das eleições de 2008, José Eduardo dos Santos já tinha dito que o MPLA participaria nessas eleições, mas ele não seria candidato do MPLA. E não foi isso que ocorreu.
O Presidente José Eduardo dos Santos não só se apresentou como candidato, mas também aproveitou para fintar mais uma vez os angolanos e a comunidade internacional ao dizer que as eleições em 2008 seriam apenas legislativas e que presidenciais teriam lugar em 2009. Não tiveram nada lugar, como toda a gente sabe. E aproveitou para fazer mais uma finta que foi a introdução de um texto constitucional atípico em substituição do próprio texto apresentado pelo MPLA, o seu partido. Quando ele disse que não seria candidato, houve vozes que se levantaram no próprio partido. Parece-me que o Presidente Eduardo dos Santos estava apenas à procura de quem "se atreveria" a disputar o seu lugar para encostá-lo num canto qualquer. E foi isso que aconteceu.
DW África: Agora José Eduardo dos Santos também ainda não disse se vai concorrer às eleições em 2017. A UNITA já disse que é preciso ver para crer…
RD: Absolutamente, é preciso ver para crer. Porque se ele diz que só vai sair da vida política ativa em 2018 está a querer dizer claramente que ele vai ser candidato do MPLA em 2017. Com a saída em 2018 quererá o quê? Isso será em função de quem ele conseguir pôr como vice-presidente da República, que possa dar continuidade aos seus projetos.
Vamos esperar para ver. Quanto a nós, sabemos que vamos às eleições em 2017. Temos tudo para ganhar essas eleições. A única coisa que queremos é uma eleição minimamente transparente no país. De resto, depois vamos ver com que linhas se cose o MPLA. Não acredito que isto seja uma tragédia para o MPLA, porque quando morreu Agostinho Neto o MPLA não acabou. Substituiu-o José Eduardo dos Santos, na altura muito jovem até, e o MPLA prosseguiu até aqui. Mas isto é daquelas coisas que não nos aquecem nem arrefecem.
DW África: A UNITA já disse que está pronta para a alternância em Angola e que pode ser uma alternativa credível. No entanto, vozes críticas dizem que a UNITA é um partido fechado sobre si próprio, que se acomodou e que podia fazer mais como força da oposição.
RD: Julgo que qualquer coisa que um partido ou qualquer organização faça, significa que há sempre espaço para fazer mais. Nós também acreditamos que temos espaço para fazer mais. Mas, sobretudo, há um problema de visibilidade daquilo que nós fazemos. Temos uma imprensa pública que é do MPLA, que serve o partido no poder e o próprio regime. Logo, todas as acções feitas pela UNITA, não passam nesta imprensa ou na televisão e na rádio que chegam a todo ou a quase todo o país. Durante os últimos três anos não se ouviu o líder do maior partido da oposição a falar num órgão público. É absurdo, é inconcebível.
DW África: Não foi este o país que idealizaram quando o partido foi fundado por Jonas Savimbi em 1966?
RD: Em 1966, um dos lemas do partido era a democracia. Uma democracia multipartidária e não a situação de monopartidarismo que o país viveu durante muitos anos. Depois passou a ser um país de muitos partidos, mas com o MPLA a querer governar sozinho. Parece-me que temos aqui um enclave económico de uma família que depois partilha os rendimentos da forma como quer e quando há dificuldades toda a gente tem de ser chamada a partilhar, o que é completamente inconcebível.
DW África: A UNITA celebra o aniversário da sua fundação sob o lema "UNITA 50 Anos por Angola e pelos Angolanos". O que fez a UNITA ou pretende ainda fazer para mudar o cenário que se vive no país?
RD: A UNITA já fez muito, a começar por alguma abertura democrática que este país vive. Desde a sua fundação há 50 anos, a UNITA tem estado a bater-se para que tenhamos uma Angola democrática, onde toda a gente possa ter oportunidades iguais. Uma Angola onde seja priorizado o angolano. É óbvio que se a UNITA chega ao poder, vai poder concretizar isso.
DW África: E vão insistir na realização das eleições autárquicas no país nos próximos tempos?
RD: Absolutamente. Aliás, isto mostra o concretizar a democracia. O problema neste país é que quem está habituado a controlar todo o poder fica com dificuldades de partilhá-lo. Claramente, as autarquias representam uma partilha de poder. As autarquias são um grande ponto, não só para se partir para uma democracia real, mas sobretudo para a resolução real dos problemas das pessoas nos seus municípios, nas suas comunas, nas suas aldeias.