UNITA critica "viagens de luxo" de João Lourenço
14 de dezembro de 2018O porta-voz da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Alcides Sakala, corrobora as críticas aos "hábitos de luxo" do Presidente João Lourençonas recentes viagens oficiais que fez ao estrangeiro, nomeadamente na sua primeira visita oficial a França e na deslocação que fez a Espanha para uma consulta médica, a bordo de um Boeing 787 VIP, de valor comercial estimado em 320 milhões de dólares.
"O Presidente foi duramente criticado pelas forças da oposição e também por forças da sociedade civil por estes excessos. Sobretudo aquele avião que o Presidente utilizou, em que se pagava cerca de 74 mil dólares por hora", critica o secretário para as Relações Exteriores da UNITA, em entrevista à DW África em Lisboa.
"Houve excessos, de facto. Mas o importante agora é partirmos para a transparência na gestão dos fundos públicos. Este é o nosso grande objetivo, enquanto oposição vamos continuar a levantar esta questão a todos os níveis", promete Alcides Sakala.
Durante muitos anos, lembra o porta-voz da UNITA, o partido sempre levantou alto a bandeira contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência: "Tudo o que nós fomos dizendo como males que enfermavam a sociedade angolana ficam agora confirmados por esta crise que o partido no poder está a viver atualmente e que se poderá agudizar com o andar do tempo."
"Parece emergir agora no país alguma vontade por parte da nova liderança de se procurar moralizar a sociedade", admite Sakala, que também reconhece que existe "alguma convergência de pontos de vista" relativamente àquilo que a UNITA tem vindo a defender ao longo dos anos.
De acordo com o porta-voz do principal partido da oposição, "o poder atual tem um discurso cheio de intencionalidades neste sentido", mas também lembra que "uma questão é o discurso teórico e outra é a prática efetiva."
Crise entre "eduardistas e lourencistas"
Alcides Sakala considera que o MPLA, o partido no poder, está a enfrentar atualmente uma crise interna, "entre eduardistas e lourencistas", mas é preciso passar da teoria à. "Não bastam as leis", reforça. "Durante muitos anos Angola viveu um sistema que promovia esta prática da corrupção e hoje está provado. Temos vindo a acompanhar as situações desta natureza em todo o país. Portanto, há que se continuar este combate necessário para que os recursos que eram desviados para alimentar a corrupção sejam utilizados para a promoção do desenvolvimento do nosso país", defende.
"Angola tem de evoluir para a necessidade de se criarem instituições fortes", avisa ainda o porta-voz da UNITA, que avalia igualmente o processo de repatriamento de capitais, que deve terminar a 26 deste mês, de acordo com a decisão do Governo de João Lourenço. Alcides Sakala lembra que ainda não há nada de concreto como resposta a estas tomadas de posição do Executivo angolano.
"Enquanto esta lei não entra em vigor, não há informação nenhuma, oficial, de que este processo tenha começado. Vamos aguardar pelos próximos três meses do próximo ano, talvez possam dar mais indicações de que há angolanos que têm capitais desviados dos fundos públicos guardados cá fora, que tivessem iniciado com este processo de repatriamento", diz Sakala, que também espera que Portugal cumpra a promessa feita aquando da visita de Estado de João Lourenço de que ajudará Angola no processo de repatriamento de capitais.
Excessos da polícia na "Operação Resgate"
Questionado sobre os excessos da polícia no âmbito da "Operação Resgate", que terá levado à morte, na semana passada, de uma adolescente de 13 anos numa briga com as zungeiras, o porta-voz da UNITA reconhece que "é necessário organizar a sociedade angolana", nomeadamente o movimento de imigrantes ilegais de países vizinhos em território nacional.
"Houve, de facto, excessos por parte das forças a ordem. As Nações Unidas, a Amnistia Internacional e outras instituições ligadas aos Direitos Humanos também levantaram este problema, chamaram a atenção do Governo angolano para os excessos que estavam a ser cometidos", lembra na entrevista à DW. A UNITA defende a responsabilização dos agentes que violaram os direitos humanos "para que as forças da ordem se pautem naquilo que são as normas do direito interno angolano."
Alcides Sakala e Marcolino Nhany, secretário-geral da UNITA, participaram recentemente, em Hamburgo, na Alemanha, no congresso da União Democrata Cristã (CDU), o partido da chanceler Angela Merkel. Em Lisboa, a delegação também estabeleceu contactos e recolheu experiências no domínio do poder local tendo em vista as primeiras eleições autárquicas em Angola, previstas para 2020. Nos próximos dias, começa no Parlamento angolano a discussão das propostas de lei sobre o processo autárquico, sendo objetivo da UNITA mobilizar consensos sobre as matérias mais importantes.