UNITA alerta para alastramento da pobreza no Cuando Cubango
16 de dezembro de 2022É mais um dia sem ir à escola. "Pedro” (nome fictício) tem 13 anos de idade, mas trabalha nas ruas a engraxar sapatos para ajudar a avó, os pais e outros cinco irmãos.
"Faço este trabalho para ajudar a minha avó, o pai foi na lavra com a mãe, para trabalhar na lavra alheia", conta.
Estima-se que, nas zonas rurais em Angola, 87% dos habitantes estejam numa situação de fragilidade. A pobreza alastra-se, também por causa do impacto das alterações climáticas. O sul do país tem sido devastado por uma seca prolongada, que afeta sobretudo os mais vulneráveis.
O maior partido da oposição, a UNITA, diz que é preciso fazer mais para ajudar todas estas pessoas.
"Ainda há muito por fazer. Não basta a vontade local. Há questões que devem ser tratadas a nível da estrutura central do Governo", salienta o deputado Eduardo Paulo que visitou recentemente a província do Cuando Cubango, com outros deputados da UNITA.
"Constatámos muitos problemas básicos, não apenas na capital provincial, Menongue, mas também em outros municípios. Há muita fome e fome concreta, que faz vítimas", frisa.
São preocupações que os deputados prometem agora levar ao Parlamento angolano.
Da saúde à educação
Segundo Eduardo Paulo, falta de tudo um pouco. "Postos médicos sem medicamentos ou até mesmo localidades que não têm estruturas de saúde. A educação também está ainda muito enferma e aqui conseguimos visitar algumas escolas. Nós pensamos que vai continuar a nossa tese, já defendida em momentos anteriores, que na conceção e elaboração do Orçamento Geral do Estado (OGE) o setor social seja priorizado."
A proposta de orçamento para 2023 prevê aumentos para o setor social. Para a educação estão previstos 1,5 biliões de kwanzas (2,8 mil milhões de euros); por outro lado, para a saúde estão orçamentados 1,3 biliões de kwanzas (cerca de 2,4 mil milhões de euros).
O Governo diz que é um orçamento "equilibrado". Mas ainda há muitos problemas por resolver, frisa a UNITA.
"Porque não tiramos algum espaço do nosso tempo para olharmos para questões internas como estas e vermos se acabamos com a fome, a falta de medicamentos e com a debilidade na educação", apela.
Os professores têm protestado, exigindo melhores salários e condições nas escolas. "Pedro” continua na rua, à espera de melhores oportunidades.
"Nestas condições, conheço muitos. Dois deles têm 14 e 15 anos de idade", contou.
A DW contactou o secretário do departamento de informação e propaganda do MPLA na província, mas não obteve retorno até à conclusão desta reportagem.