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Uma semana de estreias em África sublinha a imprensa alemã

3 de fevereiro de 2012

A imprensa alemã destacou os temas que mais marcaram a atualidade africana: os confrontos no Senegal e a cimeira da União Africana. A semana ficou marcada por acontecimentos inéditos.

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Saiba o que disse a imprensa alemã esta semana sobre África
Saiba o que disse a imprensa alemã esta semana sobre ÁfricaFoto: Fotolia

A semana, uma semana de estreias, começou mal – pelo menos, para a União Africana, pelo menos no que toca à presidência do seu órgão mais importante. Este 18º encontro, que decorreu entre domingo passado e segunda-feira na capital etíope, Adis Abeba, terminou sem que o principal objetivo – eleger um presidente para a sua Comissão – fosse cumprido: na corrida estavam o gabonês Jean Ping e a sul-africana Nkosazana Dlamini-Zuma. Assim sendo, pelo menos até à próxima cimeira, prevista para o mês de junho, no Malaui, quem irá presidir interinamente ao órgão é o seu vice presidente, o quenaino Erastus Mwencha. Ou seja: "África ficou sem presidente", já escreveu o Süddeutsche Zeitung. Pela primeira vez na história da organização.

A eleição do presidente da Comissão tomou, em vão, tanto tempo que o outro tema previsto para o encontro do início da semana, o comércio intra-africano, também não viu progressos – ao contrário da nova sede da organização: esta foi inaugurada no sábado passado, mesmo a tempo de receber, pela primeira vez, os líderes africanos. Como escreveu o tablóide Bild, o "complexo gigante" em Adis Abeba, deverá servir de "símbolo da amizade entre a China e os países africanos" bem como da "determinação do gigante asiático em ajudar África no seu desenvolvimento". O "generoso" presente de Pequim terá custado mais de 150 milhões de euros, informou o Bild.

E o Tageszeitung foi mais longe: "Se há um país que siga as pisadas da Líbia", que, segundo o jornal, entrava com 15% do orçamento da UA e cobria as contribuições de diversos membros mais pequenos, "esse país é a China", assim escreveu Dominic Johnson no seu artigo do Tageszeitung. O edifício de 100 metros de altura, o mais alto da capital etíope, é "a marca mais óbvia do poder chinês no continente" e, simbolicamente, também será para a União Africana.

Por ocasião do encontro do grupo, o diário de Berlim aproveitou para recordar o início da UA: O líbio Muammar Kadhafi fundara-a em 1999 durante uma cimeira na cidade de Sirte, na Líbia. Segundo Johnson, Kadhafi via na União "um estádio anterior aos Estados Unidos de África", organização que, na visão do general líbio, "haveria de estar sob a sua liderança". E agora, esta foi a primeira cimeira da União Africana desde o derrube e a morte do seu fundador.

A nova sede da UA foi estreada nesta 18ª cimeira
A nova sede da UA foi estreada nesta 18ª cimeiraFoto: picture-alliance/dpa

Senegal, a instabilidade num país estável

As estreias da semana não se fizeram sentir apenas na cimeira da União Africana: no outro lado do continente, no Senegal, também os últimos dias trouxeram ao país imagens até então desconhecidas: as manifestações não cessam na capital Dacar.

Em África, costuma ser bom sinal quando pouco se ouve sobre um país". Segundo o Süddeutsche Zeitung, normalmente tal significa que esse país se está a desenvolver em paz, "sem ter de recorrer ao Conselho de Segurança da ONU ou de alertar a consciência mundial para crises de refugiados ou a fome". No seu artigo de quarta-feira (01.02.), no diário de Munique, Arne Perras referiu-se ao país da África Ocidental como "o único na região que nunca viveu um golpe de estado". Agora, também este "se catapultou para as notícias mundiais".

Os senegaleses exigem a retirada da candidatura do atual chefe de estado, Abdualye Wade, às presidenciais, marcadas para o próximo dia 26 de fevereiro. Wade, de 85 anos, concorre pela terceira vez consecutiva ao escrutínio, o que já foi aprovado pelo Tribunal Constitucional.

Os protestos já causaram a morte de, pelo menos, quatropessoas. Na quinta-feira, o Neue Zürcher Zeitung citava jornais locais, segundo os quais ainda na terça-feira a polícia nacional dissolveu uma manifestação na Place de l'Obélisque, na capital senegalesa, recorrendo a gás lacrimogéneo, "depois de os manifestantes se terem preparado para derrubar uma barreira colocada pela polícia, a fim de se poderem aproximar do palácio presidencial". De acordo com o jornal senegalês "Sudonline", citado pelo Neue Zürcher Zeitung, um camião-cisterna da polícia terá atropelado um estudante, causando a morte deste."

"Entre aqueles que foram presos desde o início da agitação no país está também Alioune Tine, o conhecido defensor dos direitos humanos. Lembra o Tageszeitung que, "normalmente é ele, Tine, que se impõe em defesa dos que sao vítimas de violações dos seus direitos": segundo o Tageszeitung, este professor universitário é o presidente da RADDHO, uma organização não governamental de defesa dos direitos do homem, e chegou a estar preso durante 48 horas por liderar o "Movimento 23 de Junho", que tem organizado os protestos.

Autora: Marta Barroso
Edição: António Rocha

O Senegal era considerado como um dos países mais estáveis da África Ocidental
O Senegal era considerado como um dos países mais estáveis da África OcidentalFoto: dapd