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Um ano depois a vida normaliza-se lentamente no Japão

Ferro de Gouveia, Helena17 de março de 2012

São imagens terríveis as que chegaram do Japão a 11 de março de 2011. Ao terramoto seguiu-se um tsunami e uma catástrofe nuclear. Mas, pouco a pouco, e apesar da vida "em provisório" se manter, a normalidade regressa.

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A 11 de Março de 2011 às 14h46 hora local, a terra tremeu ao largo da costa nordeste do Japão. Pouco tempo depois um tsunami de dez metros de altura abateu-se sobre as regiões costeiras.

As imagens mais espetaculares vieram da cidade portuária de Miyako na prefeitura de Iwate. O mar galgou os muros de proteção, arrastou carros, barcos e casa inteiras. Segundo informações oficiais nesta cidade de 57 mil habitantes houve quatrocentas vítimas mortais e a frota pesqueira ficou quase toda ela destruída.

Um ano depois da catástrofe a maioria dos habitantes de Miyako continua a não saber quando poderá deixar os abrigos provisórios e regressar a habitações adequadas.

Seis mesas com quatro lugares cada e uma sala pequena com tapetes de tatami, os tradicionais tapetes de palha de arroz japoneses. Este é o número 55 em Miyako. Shiro Otate era dono de um pequeno restaurante à beira-mar. Quando a terra tremeu, a 11 de Março de 2001, ele pôs-se de imediato a caminho da sua casa nas montanhas para ver como estava a mulher. "Enquanto eu estava a caminho veio o tsunami. Ficou tudo inundado. Foram precisos três dias até eu poder voltar ao restaurante. Estava cheio de destroços era simplesmente horrível", recorda.

Shiro Otate não hesitou durante muito tempo e alugou uma pequena casa em frente ao centro administrativo de Miyako, onde abriu o seu restaurante novo. "A água aqui quase que chegou ao telhado, mas nós renovámos a casa", diz. Não teve apoio financeiro, mas obteve um crédito de dez milhões de ienes, cerca de cem mil euros, sem juros.

Na câmara municipal, em frente ao restaurante, o administrador, Katsunori Konari, diz que Miyako teve sorte de muitas maneiras. É verdade que ainda há destroços amontoados numa zona do porto, mas parte deles, restos de madeira e outros detritos, foram enviados para Tóquio e incinerados. Contudo, ainda demorará anos até que as novas zonas residenciais sejam construídas.

A cidade fantasma

A cidadezinha de Futaba tinha cerca de 6.500 habitantes até Março de 2011. Depois veio o Tsunami e a catástrofe nuclear de Fukushima. Hoje é uma cidade fantasma evacuada devido à radiação.

Das 1.500 pessoas que foram realojadas ao norte de Tóquio, cerca de quinhentas, na maioria idosos vivem ainda em alojamento provisórios.

Uma delas é Suzuki. "É difícil, mas ajuda o facto de já em Futaba termos sido vizinhos. Eu estou a ajudar, organizando diversas atividades. Esta manhã houve um curso de cerâmica, nós fazemos artesanato e bordados. Tudo bem, eu estou ocupada."

Suzuki tem 86 anos e está numa sala de 50 metros quadrados, numa antiga escola em Kazo, a norte de Tóquio. Ela mora aqui, com outras dez pessoas. Cada uma tem um pequeno espaço para si onde o futon, a cama tradicional japonesa, é aberto à noite.

A maioria dos cerca de 500 moradores de Futaba, que ainda vivem na escola são idosos e procuram um pouco de apoio mútuo. "Eu estou sozinha. A minha família vive agora em Tochigi: a minha filha, o marido e o neto. Nós viemos para aqui todos juntos, mas os meus netos não podem estudar aqui, por isso eles foram para Tochigi", conta Suzuki.

Suzuki é pequena e parece frágil. Mas os olhos transmitem uma enorme energia. Ela dirigia o antigo clube sénior em Futaba, o lugar onde se situava a central nuclear danificada Fukushima 1.

A 12 de Março a cidade foi evacuada e no final de o mês que os moradores que queriam ficar juntos foram realojados num abrigo temporário em Kazo. "Eu não queria ser um fardo para a família da minha filha. Eu quero viver com todos aqueles que têm um destino semelhante."

Claro que seria bom voltar à sua antiga casa, diz Suzuki e as lágrimas misturam-se na sua voz. "Eu quero voltar, mas não posso esperar 30 anos. Estou muito velha. Provavelmente não vai morrer na minha terra natal." O neto dela pediu, no entanto, que Suzuki não desista da propriedade, porque ele quer voltar lá algum dia.

Porém, face à radioatividade atual de Futaba será difícil regressar lá, mesmo daqui a 30 anos.

Uma reportagem de Peter Kujath apresentada por Helena Ferro de Gouveia.

Autor: Peter Kujath/Helena Ferro de Gouveia
Edição: Johannes Beck