Ramaphosa sugere a Zelensky "saída negociada" para conflito
21 de abril de 2022"Tive uma conversa telefónica com o Presidente Zelensky, da Ucrânia, para abordar o conflito na Ucrânia e o seu trágico custo humano, assim como as suas ramificações globais", escreveu o chefe de Estado sul-africano na rede social Twitter.
Cyril Ramaphosa acrescentou que seu país "está de acordo na necessidade de uma saída negociada para a guerra, que teve um impacto no lugar da Ucrânia nas cadeias globais de fornecimento, incluindo o seu lugar como um grande exportador de alimentos para o nosso continente".
A África do Sul tem sido acusada de não criticar a invasão russa da Ucrânia e de manter uma posição equidistante sobre o conflito, algo que os analistas têm explicado com a relação próxima entre a economia mais avançada da África subsaariana e a Rússia.
No futuro, relações com África
"O Presidente Zelensky prevê relações mais próximas com África no futuro", disse ainda Ramaphosa na mensagem colocada no Twitter.
Por seu turno, o Presidente ucraniano escreveu, na mesma rede social que, durante a conversa telefónica com Cyril Ramaphosa, falou-lhe sobre a resistência à agressão russa e "sobre a ameaça de uma crise alimentar global, o aprofundamento das relações com a República da África do Sul e a cooperação nas organizações internacionais".
Para a embaixadora da Ucrânia na África do Sul, o telefonema foi um "forte sinal" para o Presidente da Rússia, Vladimir Putin.
"Eles discutiram a resistência da Ucrânia, e as relações entre a Ucrânia e a África do Sul, e a cooperação; estes foram os principais pontos", disse Liubov Abravitova ao canal sul-africano News24.
"O telefonema foi a primeira comunicação entre os presidentes desde há muito tempo, e acredito que é um sinal muito forte para Putin, é a minha avaliação da chamada".
Aliado histórico da Rússia
O Governo sul-africano, aliado histórico da Rússia, exigiu a "retirada" imediata das tropas russas no dia em que estas invadiram a Ucrânia, mas desde então tem suavizado a posição sobre o conflito, abstendo-se das votações nas Nações Unidas sobre a condenação da invasão e a suspensão de Moscovo do Conselho dos Direitos Humanos.
A guerra na Ucrânia está a piorar a situação alimentar a nível mundial, devido à interrupção das cadeias de fornecimento de cereais, que têm na Rússia e na Ucrânia dois dos maiores produtores mundiais.
Segundo a Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura, os preços dos alimentos em todo o mundo podem aumentar 20%, e na quarta-feira o presidente do Banco Mundial disse que o preço do trigo já subiu 37% face aos valores de há um ano.
Para além do problema alimentar, a guerra na Ucrânia motivou também uma descida na ajuda internacional, com vários doadores europeus a redirecionarem as verbas para financiar o acolhimento dos milhões de refugiados que saíram da Ucrânia.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de 5 milhões das quais para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU - a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).