Tunisinos elegem membros do novo Parlamento
6 de outubro de 2019Sete milhões de tunisinos foram às urnas este domingo (06.10) para eleger um novo Parlamento. As eleições legislativas ocorrem depois da primeira volta das presidenciais, que tiveram lugar em setembro. Os resultados preliminares devem ser divulgados na próxima quarta-feira (09.10).
Ao contrário da eleição para a chefia do Estado, com a segunda volta confirmada para 13 de outubro, a campanha das legislativas não mobilizou a população. As eleições para o Parlamento foram ofuscadas pelo duelo entre os candidatos Kais Saied e Nabil Karoui.
Na primeira volta das presidenciais a taxa de participação situou-se nos 49%. Até a reta final da campanha, nenhum partido "pós-Primavera Árabe de 2011" tinha apelado a uma participação massiva.
"A maioria das pessoas está completamente desinteressada pelas eleições legislativas", reconheceu um candidato em campanha, o advogado Ghazi Mrabet, em entrevista à agência noticiosa AFP. Neste escrutínio de listas a uma volta, está em causa a relação de forças, os equilíbrios políticos e a governação nos próximos cinco anos.
Mais de 15.000 candidatos em 1.500 listas disputam 217 assentos num Parlamento dominado pelo partido islâmico Ennahdha em aliança com o partido centrista Nidaa Tounes, que foi dizimado por disputas internas.
A rejeição expressada face aos partidos tradicionais abre o caminho a novos protagonistas, como sucedeu nas municipais de maio de 2018, com a vitória de listas independentes quase desconhecidas. Diversas formações "antissistema" têm-se afirmado no cenário político interno, e apostam na "refundação da Tunísia" por meio de uma reforma do regime e da forma de governar.
O comité político do Tahya Tunes, o partido do chefe de governo Youssef Chahed, apela a uma união das "forças democráticas". O Nidaa Tunes, fundado pelo falecido Presidente Béji Caid Essebsi, pode mesmo desaparecer da paisagem política, segundo as sondagens.
Governação instável
A anterior composição do Parlamento, assinalada pela ausência de uma maioria clara e por permanentes jogos de aparelhos partidários, impediu a concretização de diversas reformas importantes, num país confrontado com uma economia em crise, desemprego, serviços públicos deficientes e inflação.
De acordo com a nova Constituição, adotada em janeiro de 2014 pela Assembleia constituinte do país magrebino, cabe ao Parlamento designar o chefe de Governo. A dispersão dos votos pode implicar um hemiciclo instável, muito fragmentado, com deputados eleitos com fracas votações.
Dessa maneira, o escrutínio pode reeditar o cenário de 2014, com a impossibilidade de garantir uma maioria estável e um Executivo que pode cair em qualquer momento. Diversos analistas têm recordado que o Parlamento arrisca a dissolução caso não consiga, quatro meses após os deputados tomarem posse, garantir o seu apoio a um governo. No entanto, uma prolongada incerteza não será bem recebida pela população.
Os tunisinos continuam a aguardar que os avanços democráticos da revolução de 2011 cumpram duas das suas principais reivindicações: Trabalho e dignidade.