Tunísia: "O povo quer derrubar o golpe de Estado"
18 de setembro de 2021Respondendo a um apelo divulgado nas redes sociais, os manifestantes concentraram-se na avenida Habib Bourguiba, que atravessa o centro da capital tunisina, rodeados por um importante dispositivo de segurança, constataram jornalistas da agência France-Presse.
Um ‘drone' (avião não tripulado) do Ministério do Interior sobrevoava o local.
"O povo quer derrubar o golpe de Estado", "Queremos legitimidade", "Constituição, liberdade, dignidade" gritaram os manifestantes, entre os quais se encontravam figuras do partido de inspiração islâmica Ennahdha.
Partidários da coligação Al-Karama, partido ultraconservador aliado do Ennahdha, também participaram na manifestação, assim como figuras de esquerda.
"É uma manifestação para mostrar que há tunisinos e tunisinas que recusam o golpe de Estado e as medidas tomadas pelo presidente Saied”, disse à AFP Jawhar Ben Mbarek, especialista em direito constitucional e antigo conselheiro da presidência do governo, de esquerda.
O todo poderoso
A 25 de julho, Said demitiu o primeiro-ministro Hichem Mechichi, suspendeu o Parlamento e arrogou-se o poder judicial por um mês renovável, medidas que prolongou a 24 de agosto "até nova ordem".
Entretanto evocou a possibilidade de alterar a Constituição, aprovada em 2014 e que instaurou um sistema híbrido, nem presidencial nem parlamentar, fonte de conflitos recorrentes entre os dois poderes.
"Essas medidas violam a Constituição", disse Ben Mbarek.
Manifestamo-nos para "proteger a nossa liberdade e os nossos direitos depois de ver sinais consistentes de regressão que minam o processo democrático" na Tunísia, acrescentou.
Diante da multidão compacta, algumas dezenas de militantes favoráveis a Kais Saied pediram a dissolução do parlamento, gritando palavras de ordem anti-Ennahdha e contra o seu líder Rached Ghannouchi, presidente do Parlamento suspenso.
Para justificar o seu golpe de força, o Presidente Saied baseou-se no artigo 80 da Constituição, que prevê medidas excecionais em caso de "perigo iminente” para a segurança nacional. Mas várias organizações não-governamentais, partidos políticos, magistrados e advogados dizem recear uma "deriva autoritária".