Transportes em Moçambique à beira do colapso
20 de março de 2017Os transportadores da cidade de Maputo e Matola estão indignados com o Governo, porque os preços dos transportes semi-coletivos de passageiros não se alteram há nove anos. O Governo apenas subsidia os combustíveis e não as peças de viaturas que agora estão mais caras, devido à depreciação do metical face ao rand e ao dólar.
Os transportadores referem que os custos de operação dispararam e são agora insustentáveis.
Queixas dos residentes
As cidades de Maputo e Matola já estão a ressentir-se da falta de transporte. Há utentes que se fazem transportar em camionetas que não reúnem condições de segurança. Entre as queixas dos residentes que falaram à DW África está a necessidade de "madrugar” para ter um transporte. Um outro residente diz que se "pode estar ficar durante uma hora, duas horas” à espera de um transporte.
Em 2008, a última vez que houve um aumento da tarifa de transporte, os populares das duas cidades saíram à rua em protesto contra a medida.
Desde então, segundo Alexandre Ngovene da FEMATRO, Federação dos Transportes Rodoviários, o setor está acumular prejuízos."Vamos completar nove anos a cobrar o mesmo preço é só imaginar o que é isso aí. E o metical perdeu o seu valor quantas vezes? O pneu que comprava a três mil meticais [60 euros] hoje compro a sete mil meticais [100 euros] e continuo a cobrar o preço ínfimo.”
Situação crónica
A situação torna insustentável a atividade, porque, segundo o empresário Luís Pedro, as taxas de importação de veículos de passageiros estão mais caras.
"Se pudessem, na medida do possível, influenciar no sentido de, logo que estejam reunidas todas as condições, baixarem as taxas de juro porque não há investimento que resista a 30% das taxas de juro e com a desvalorização do metical. Ou seja, a taxa de juro real neste momento é extremamente elevada” argumenta o empresário.
Por sua vez, o administrador da Empresa Municipal de Transportes da Matola, Eduardo Mussengue nota que recebeu, em 2014, 75 autocarros mas agora apenas 10 estão em operação. A falta de peças é uma "situação crónica”: "Ou porque não há peças no mercado ou porque não temos dinheiro para o efeito. O Ministério dos Transportes está a trabalhar no assunto para evitar muitas marcas na empresa”.
O Governo apenas exigiu que as transportadoras não encurtem as rotas para merecerem apoio. O ministro da Economia e Finanças defende que, com a retoma da economia nacional, o problema pode ser resolvido.
"A aposta agora é olharmos como é que nós produzimos e é só com a produção que nós podemos avançar. Tudo o resto resolve-se mas sem a produção é impossível. Então todas as questões estão mais viradas para essa perspetiva.”