Moçambique entre os melhores países africanos para investir
20 de janeiro de 2019Para a consultora EXX Africa, Moçambique é um dos cinco melhores destinos para investir em África este ano. No seu relatório "Africa Investment Risk Report 2019", a que a Lusa teve acesso, são também recomendados investimentos em Angola, na Etiópia, no Gana e na Mauritânia.
Na introdução do relatório, os analistas admitem que "pode, ou não, ser surpreendente que as maiores economias africanas - Nigéria, África do Sul e Egito - não apareçam na seleção dos cinco principais países para investir", mas explicam que, além de já terem aparecido em edições anteriores, há questões específicas a cada país, como as eleições muito disputadas na África do Sul e na Nigéria, e a 'velocidade de cruzeiro' no Egito.
Desafios em Moçambique
Ainda que conste desta lista, Moçambique tem alguns desafios pela frente que não são ignorados pela consultora, nomeadamente, as eleições, a 15 de outubro, a capacidade de resposta aos ataques terroristas no norte do país e garantir uma resolução duradoura para o problema da dívida pública.
"As receitas do gás vão ser cruciais para o terceiro objetivo", vincam os analistas, acrescentando que "os desenvolvimentos positivos no gás natural está a motivar cada vez mais uma reestruturação da dívida e o regresso do envolvimento dos doadores".
Para a EXX Africa, o regresso do Governo moçambicano à mesa de negociações com os credores, tendo acordado uma proposta preliminar de reestruturação da dívida soberana em novembro, "está a ser motivado pelo forte desejo do Governo de se voltar a envolver com o FMI, porque o Estado precisa de milhares de milhões de dólares para financiar a sua própria participação nas concessões de gás".
"Trunfo" para Nyusy, diz investigador
Numa entrevista à Lusa, este domingo (20.01), o investigador Fernando Jorge Cardoso aborda também o tema dos ataques terroristas no norte do país. Fernando Jorge Cardoso afirma que os ataques em Cabo Delgado "não começaram, contrariamente às informações, em 2017".O que começou em 2017, explica, foram "alguns atos de decapitação, que tiveram uma repercussão bastante forte em termos mediáticos, porque neste momento falamos de grandes investimentos de gás na mesma zona".
Segundo este investigador, "os ataques são da autoria de uma "seita de dentro do Islão", que tem vindo a atuar na região desde há cerca de duas décadas, mais especificamente, "uma organização islâmica" com "uma versão mais wahabita, mais salafista, do Islão".
Segundo o também coordenador de Estudos Estratégicos e do Desenvolvimento do Instituto Marquês de Valle Flôr e investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE/IUL, terão sido "problemas internos nas interpretações do Islão" que terão levado a estes ataques.
O investigador frisa ainda a importância da resolução do problema por parte do governo de Filipe Nyusi em ano de eleições. "Em outubro vai haver eleições e o trunfo que o Presidente Nyusi pode ter é a solução do problema do nordeste. Mas este é um problema complicado, porque envolve uma atuação que terá que ser muito concertada com os locais. Terá que ser uma atuação de força, sem dúvida, mas de força inteligente", disse.